quinta-feira, 30 de setembro de 2010

TEXTO PARA REFLETIR



ILHA DOS SENTIMENTOS


Era uma vez uma ilha, onde moravam os seguintes sentimentos: a alegria, a tristeza, a vaidade, a sabedoria, a riqueza, a bondade e outros...
Um dia, avisaram para os moradores dessa ilha, que ela ia ser inundada.
A Bondade cuidou logo para que todos os sentimentos se salvassem; então falou:
- Fujam todos, a ilha vai ser inundada.
Todos correram e pagaram seu barquinho para irem a um morro bem alto. Só a bondade não se apressou, pois queria ficar e se certificar de que todos estavam bem.
Quando já estava tudo inundado, correu para pedir ajuda.
Estava passando a Riqueza e ela disse:
- Riqueza, leve-me com você! Ela respondeu:
- Não posso, meu barco está cheio de ouro e prata, você não ia caber.
Passou a Vaidade e ela pediu:
- Oh! Vaidade, leve-me com você!
- Não posso, você vai sujar meu barco. 
Logo atrás vinha a Tristeza.
- Tristeza, posso ir com você?
- Ah! Bondade, estou tão triste que prefiro ir sozinha!
Passou a Indiferença, mas fez que não estava escutando o chamado da Bondade.
Desconsolada, a Bondade começou a chorar e pacientemente resolveu esperar ajuda.
Então passou um barquinho, onde estava um velhinho que lhe falou:
- Sobe, Bondade, que eu te levo!
A Bondade ficou tão radiante de felicidade que até esqueceu-se de perguntar o nome do velhinho.
Chegando ao morro onde estavam os sentimentos, ela perguntou a Sabedoria:
- Sabedoria, quem era o velhinho que me trouxe aqui?
Ela respondeu:
- O Amor!


A ORAÇÃO DA MULHER CRISTÃ

18 FORMAS PARA COMEÇAR UM TEXTO

O parágrafo-chave: 18 formas para você começar um texto


Publicidade
Caríssimos, um dos motivos que torna a redação uma pedra no sapato de muitos é a elaboração do primeiro parágrafo, ou seja, da introdução. Feito o parágrafo-chave, as ideias fluem com mais facilidade, já que definimos o ponto de vista que iremos defender.
O professor Antonio Carlos Viana, dá-nos algumas sugestões para iniciarmos nossos textos, confiram.
O parágrafo-chave: 18 formas para você começar um texto
Ao escrever seu primeiro parágrafo, você pode fazê-lo de forma criativa. Ele deve atrair a atenção do leitor. Por isso, evite os lugares-comuns como: atualmente, hoje em dia, desde épocas remotas, o mundo de hoje, a cada dia que passa, no mundo em que vivemos, na atualidade.
Listamos aqui dezoito formas de começar um texto. Elas vão das mais simples as mais complexas.

1. Uma declaração (tema: liberação da maconha)

É um grave erro a liberação da maconha. Provocará de imediato violenta elevação do consumo. O Estado perderá o precário controle que ainda exerce sobre as drogas psicotrópicas e nossas instituições de recuperação de viciados não terão estrutura suficiente para atender à demanda.
A declaração é a forma mais comum de começar um texto. Procure fazer uma declaração forte, capaz de surpreender o leitor.

2. Divisão (tema: exclusão social)

Predominam ainda no Brasil duas convicções errôneas sobre o problema da exclusão social: a de que ela deve ser enfrentada apenas pelo poder público e a de que sua superação envolve muitos recursos e esforços extraordinários. Experiências relatadas nesta Folha mostram que o combate à marginalidade social em Nova Yorkv em contando com intensivos esforços do poder público e ampla participação da iniciativa privada.
Ao dizer que há duas convicções errôneas, fica logo clara a direção que o parágrafo vai tomar. O autor terá de explicitá-lo na frase seguinte.

3.Definição (tema: o mito)

O mito, entre os povos primitivos, é uma forma de se situar no mundo, isto é, de encontrar o seu lugar entre os demais seres da natureza. É um modo ingênuo, fantasioso, anterior a toda reflexão e não-crítico de estabelecer algumas verdades que não só explicam parte dos fenômenos naturais ou mesmo a construção cultural, mas que dão, também, as formas da ação humana.
A definição é uma forma simples e muito usada em parágrafos-chave, sobretudo em textos dissertativos. Pode ocupar só a primeira frase ou todo o primeiro parágrafo.
4. Uma pergunta (tema: a saúde no Brasil)
Será que é com novos impostos que a saúde melhorará no Brasil? Os contribuintes já estão cansados de tirar dinheiro do bolso para tapar um buraco que parece não ter fim. A cada ano, somos lesados por novos impostos para alimentar um sistema que só parece piorar.
A pergunta não é respondida de imediato. Ela serve para despertar a atenção do leitor para o tema e será respondida ao longo da argumentação.

5. Comparação (tema: reforma agrária)

O tema da reforma agrária está presente há bastante tempo nas discussões sobre os problemas mais graves que afetam o Brasil. Numa comparação entre o movimento pela abolição da escravidão no Brasil, no final do século passado e, atualmente, o movimento pela reforma agrária, podemos perceber algumas semelhanças. Como na época da abolição da escravidão existiam elementos favoráveis e contrários a ela, também hoje há os que são a favor e os que são contra a implantação da reforma agrária.
Para introduzir o tema da reforma agrária, o autor comparou a sociedade de hoje com a do final do século XIX, mostrando a semelhança de comportamento entre elas.

6. Oposição (tema: a educação no Brasil)

De um lado, professores mal pagos, desestimulados, esquecidos pelo governo. De outro, gastos excessivos com computadores, antenas parabólicas, aparelhos de videocassete. É este o paradoxo que vive hoje a educação no Brasil.
As duas primeiras frases criam uma oposição (de um lado / de outro) que estabelecerá o rumo da argumentação. Também se pode criar uma oposição dentro da frase, como neste exemplo:
Vários motivos me levaram a este livro. Dois se destacam pelo grau de envolvimento: raiva e esperança. Explico-me: raiva por ver o quanto a cultura ainda é vista como artigo supérfluo em nossa terra; esperança por observar quantos movimentos culturais têm acontecido em nossa história, e quase sempre como forma de resistência e/ou transformações.(...)
O autor estabelece a oposição e logo depois explica os termos que a compõem.

7. Alusão histórica (tema: globalização)

Após a queda do muro de Berlim, acabaram-se os antagonismos lesteoeste e o mundo parece ter aberto de vez as portas para a globalização. As fronteiras foram derrubadas e a economia entrou em rota acelerada de competição.
O conhecimento dos principais fatos históricos ajuda a iniciar um texto. O leitor é situado no tempo e pode ter uma melhor dimensão do problema.

8. Uma frase nominal seguida de explicação (tema: a educação no Brasil)

Uma tragédia. Essa é a conclusão da própria Secretaria de Avaliação e Informação Educacional do Ministério da Educação e Cultura sobre o desempenho dos alunos do 3º ano do 2º grau submetidos ao Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), que ainda avaliou estudantes em todas as regiões do território nacional.
A palavra tragédia é explicada logo depois, retomada por essa é a conclusão.

9. Adjetivação (tema: a educação no Brasil)

Equivocada e pouco racional. Esta é a verdadeira adjetivação para a política educacional do governo.
A adjetivação inicial será a base para desenvolver o tema. O autor dirá, nos parágrafos seguintes, por que acha a política educacional do governo equivocada e pouco racional.

10. Citação (tema: política demográfica)

"As pessoas chegam ao ponto de uma criança morrer e os pais não chorarem mais, trazerem a criança, jogarem num bolo de mortos, virarem as costas e irem embora". O comentário do fotógrafo Sebastião Salgado, falando sobre o que viu em Ruanda, é um acicate no estado de letargia ética que domina algumas nações do Primeiro Mundo.
A citação inicial facilita a continuidade do texto, pois ela é retomada pela palavra comentário da segunda frase.

11. Citação de forma indireta (tema: consumismo)

Para Marx a religião é o ópio do povo Raymond Aron deu o troco: o marxismo é o ópio dos intelectuais. Mas nos Estados Unidos o ópio do povo é mesmo ir às compras. Como as modas americanas são contagiosas, é bom ver de que se trata.
Esse recurso deve ser usado quando não sabemos textualmente a citação. É melhor citar de forma indireta que de forma errada

12. Exposição de ponto de vista (tema: o provão)

O ministro da Educação se esforça para convencer de que o provão é fundamental para a melhoria da qualidade do ensino superior. Para isso, vem ocupando generosos espaços na mídia e fazendo milionária campanha publicitária, ensinando como gastar mal o dinheiro que deveria ser investido na educação
Ao começar o texto com a opinião contrária, delineia-se, de imediato, qual a posição dos autores. Seu objetivo será refutar os argumentos do opositor, numa espécie de contra-argumentação.

13. Retomada de um provérbio (tema: mídia e tecnologia)

O corriqueiro adágio de que o pior cego é o que não quer ver se aplica com perfeição na análise sobre o atual estágio da mídia: desconhecer ou tentar ignorar os incríveis avanços tecnológicos de nossos dias, e supor que eles não terão reflexos profundos no futuro dos jornais é simplesmente impossível.
Sempre que você usar esse recurso, não escreva o provérbio simplesmente. Faça um comentário sobre ele para quebrar a idéia de lugar-comum que todos eles trazem. No exemplo acima, o autor diz "o corriqueiro adágio" e assim demonstra que está consciente de que está partindo de algo por demais conhecido.

14. Ilustração (tema: aborto)

O Jornal do Comércio, de Manaus, publicou um anúncio em que uma jovem de dezoito anos, já mãe de duas filhas, dizia estar grávida mas não queria a criança. Ela a entregaria a quem se dispusesse a pagar sua ligação de trompas. Preferia dar o filho a ter que fazer um aborto.
O tema é tabu no Brasil.(...)
Você pode começar narrando uma fato para ilustrar o tema. Veja que a coesão do parágrafo seguinte se faz de forma fácil; a palavra tema retoma a questão que vai ser discutida.

15. Uma seqüência de frases nominais (frases sem verbo) (tema: a impunidade no Brasil)

Desabamento de shopping em Osasco. Morte de velhinhos numa clínica do Rio. Meia centena de mortes numa clínica de hemodiálise em Caruaru. Chacina de sem-terra em Eldorado dos Carajás.
Muitos meses já se passaram e esses fatos continuam impunes.
O que se deve observar nesse tipo de introdução são os paralelismos que dão equilíbrio às diversas frases nominais. A estrutura de cada frase deve ser semelhante.

16. Alusão a um romance, um conto, um poema, um filme (tema: a intolerância)

Quem assistiu ao filme A rainha Margot, com a deslumbrante Isabelle Adjani, ainda deve ter os fatos vivos na memória. Na madrugada de 24 de agosto de 1572, as tropas do rei de França, sob ordens de Catarina de Médicis, a rainha-mãe e verdadeira governante, desencadearam uma das mais tenebrosas carnificinas da História.(...)
Desse horror a História do Brasil está praticamente livre(...)
O resumo do filme A rainha Margot serve de introdução para desenvolver o tema da intolerância religiosa. A coesão com o segundo parágrafo dá-se através da palavra horror, que sintetiza o enredo do filme contado no parágrafo inicial.

17. Descrição de um fato de forma cinematográfica (tema: violência urbana)

Madrugada de 11 de agosto. Moema, bairro paulistano de classe média. Choperia Bodega - um bar da moda, freqüentado por jovens bem-nascidos.
Um assalto. Cinco ladrões. Todos truculentos. Duas pessoas mortas: Adriana Ciola, 23, e José Renato Tahan, 25. Ela, estudante. Ele, dentista.
O parágrafo é desenvolvido por flashes, o que dá agilidade ao texto e prende a atenção do leitor. Depois desses dois parágrafos, o autor fala da origem do movimento "Reage São Paulo".

18. Omissão de dados identificadores (tema: ética)

Mas o que significa, afinal, esta palavra, que virou bandeira da juventude? Com certeza não é algo que se refira somente à política ou às grandes decisões do Brasil e do mundo. Segundo Tarcísio Padilha, ética é um estudo filosófico da ação e da conduta humanas cujos valores provêm da própria natureza do homem e se adaptam às mudanças da história e da sociedade.
Caríssimos, dependendo do tema que será abordado, há algumas sugestões bem interessantes que podem ser aproveitadas. Há que se verificar a natureza do concurso, as características da instituição promotora, para produzir o seu texto.
As duas primeiras frases criam no leitor certa expectativa em relação ao tema que se mantém em suspenso até a terceira frase. Pode-se também construir todo o primeiro parágrafo omitindo o tema, esclarecendo-o apenas no parágrafo seguinte.

Gêneros Textuais

Texto engraçado - Analisando as mulheres

1 aos 5 anos: A mulher não tem a mínima idéia do que ela seja.
5 aos 10 anos: Sabe que é diferente dos meninos, mas não entende porquê.
10 aos 15 anos: Sabe exatamente por que é diferente, e começa a tirar proveito disso.
25 aos 30 anos: Nessa fase formam 5 grupos distintos:

G1 -As que casaram por dinheiro
G2 -As que casaram por amor
G3 -As que não casaram
G4 -As que simplesmente casaram
G5 -As inteligentes

G1: descobrem que dinheiro não é tudo na vida, sentem falta de uma paixão.
G2: descobrem que paixão não é tudo na vida, sentem falta do dinheiro.
G3: não importa o dinheiro e a paixão, sentem falta mesmo é de um homem .
G4: não entendem por que casaram.
G5: descobrem que ter inteligência não é tudo na vida.

30 aos 35 anos: Sabe exatamente onde errou e tinge o cabelo de loiro. Vai para academia.
35 aos 40 anos: Procura ajuda espiritual.
40 aos 45 anos: Abandona a ajuda espiritual e procura ajuda médica, com analistas e cirurgiões plásticos.
45 aos 50 anos: Graças aos cirurgiões sua bunda e barriga voltaram ao normal, seus peitos ficaram melhores do que eram e explode uma paixão pelo seu analista.
Após os 50 anos: Finalmente se descobre, se aceita e começa a viver!

Projeto de História: Eleições Simuladas

           Na última quarta-feira, 29.09.10, realizou-se na Escola Municipal Maria Celeste(Catingueira-PB) As eleições simuladas para candidatos representantes da categoria estudantil dessa Escola. As eleições simuladas são o resultado do trabalho do professor de História Diomedes Tolentino em conjunto com alguns professores, coordenação, supervisão, direção e secretaria de Educação, cujo objetivo foi desenvolver a consciência crítica do aluno como cidadão participativo.
            Na ocasião, fizeram-se presentes representantes da Educação, vereadores, familiares de alunos bem como o alunado do Maria Celeste. Danças, músicas, discursos e outras atividades lúdicas direcionaram o projeto, fazendo-o constituir-se um trabalho digno de elogios.
            Os alunos votaram em urnas produzidas pelas equipes envolvidas e a votação transcorreu de forma pacífica e civilizada. Disputaram ao cargo de presidente os alunos Juan(8º Ano A), João Filomeno(8º Ano B), Ana Caroline(9º Ano A) e Carlos Gean(9º Ano B). Com Maioria dos votos, o candidato Carlos Gean(9º B) foi eleito presidente e João Filomeno(8º B) seu suplente.  


PARABÉNS AOS ALUNOS VENCEDORES – Presidente e suplente



Uma boa leitura

O PRAZER QUE A LEITURA DE TEXTOS LITERÁRIOS PODE NOS PROPORCIONAR
Rosana Muniz Soares (UERJ)

A IMPORTÂNCIA DOS PAIS E DO AMBIENTE FAMILIAR NA FORMAÇÃO DO LEITOR
Considera-se valioso o aprender a ler de “todos” de uma reação para que se possa transformá-la.
Politicamente, esta idéia não é bem aceita pelos governadores desde país, pois ainda se tem a idéia excludente de que somente uma pequena parcela da sociedade – a elite – detém o saber e conseqüentemente, o poder. Então para que formar cidadãos conhecedores, cultos?
Esta problemática perpassa pela história brasileira desde que ela existe.
Contudo, é preciso que se pense em questões que venham minimizar quiçá, equacionar futuramente este fato. Os pais e o ambiente familiar têm papéis importantes na formação do leitor.
Julga-se relevante que os pais devam ter uma preocupação com a formação literária de seus filhos.
É importante que os pais estimulem a leitura das mais variadas formas, sem que haja um momento com hora marcada, caso isto se concretize poderá ocorrer uma obrigatoriedade e não um desejo de leitura por parte de seu filho.
A literatura infantil é importante na vida de todos, desde cedo, pois
sua função básica é de estimular na criança todas as potencialidades latentes em seu ser:despertar em seu espírito uma série de valores (morais); atuar sobre a sua potencialidade psíquica, despertando e desenvolvendo seus dotes de imaginação e gosto artístico, oferecer alimento fecundo a sua imaginação, preparando-a para o conhecimento da realidade circundante e desenvolver sua capacidade expressiva[1].
Encaminhando assim, o leitor para o prazer literário.
Os pais precisam atuar mais na vida literária de seus filhos, devem ser incentivadores nesta difícil mas bela tarefa do estimular a leitura de textos literários. Os pais devem ser “parceiros neste processo”,[2] propiciando aos seus filhos, momentos de leitura sempre que possível.Eles podem: ler livros de literatura infantil à noite, antes dos filhos dormirem; pedir que os filhos escolham alguma história para que lhes contem; pedir que as crianças inventem histórias (oralmente), a partir das que já conhecem; ler junto com seus filhos, a mesma história, dividindo páginas ou capítulos; etc.O importante é que a leitura provoque vôos imaginativos.
A família que tem por costume ler, comprar livros, conversar sobre o que lê favorecerá ao possível desejo literário dos componentes da mesma.
Mesmo em ambientes menos favorecidos economicamente, quando a leitura é uma tônica cultural é possível se conquistar.
Entretanto, pode-se levantar um questionamento a partir das afirmativas anteriores: como incentivar esta prática se a “família não tem relação de intimidade e de prazer com a leitura?”.[3]
Constata-se que “o leitor pode ser formado em qualquer período de sua existência”[4], se for na infância, melhor, mas caso não aconteça o professor, como veremos mais adiante, tem o papel de estimular a prática literária.
Quanto maior estímulo cultural a criança obtiver, mais potencialidades ela pode exteriorizar, ampliando assim, suas chances de se encontrar e se realizar enquanto indivíduo.
Portanto, é necessário que o ambiente onde a criança viva, seja iniciador de uma prática literária, e provocador do prazer, da imaginação e da criação.

A RELEVÂNCIA DO PAPEL DO PROFESSOR COMO ESTIMULADOR DO PRAZER LITERÁRIO
O professor, iniciando, ou dando continuidade ao processo de leiturização dos seus alunos, tem uma real responsabilidade nesta aprendizagem. Ele cada vez mais tem de se conscientizar disto e pôr em prática estratégias variadas de leitura, para que os seus aprendizes consigam interiorizar o prazer que o texto proporciona e incorporem em suas vidas estes ensinamentos.
Para que haja a leitura propriamente dita, a da palavra, é preciso que a “leitura do mundo”[5] do aluno seja explorada e valorizada para que ele se sinta mais seguro.
Através das vivências do próprio leitor aumentará sua capacidade de criar símbolos, favorecendo assim o deciframento dos mesmos ao ler.
Acredita-se que a leitura deva ocorrer numa situação onde a experiência do leitor esteja em foco, contextualizando-o e que isto seja uma prática com estratégias variadas. Julga-se também que o “aprendizado da leitura passa por três eixos principais, a saber, 1º- a dependência de indicadores extratextuais; 2º- a dependência de indicadores textuais (portador, formato, organização, tipos de ilustração, pontuação, palavras que se repetem, título, etc.); 3º- decifrado”.[6]
Sem medo de radicalismos: “tradicionalismo”[7] ou “construtivismo”[8] acentuados, o professor deve operacionalizar com os três eixos supracitados.O primeiro é resultado natural da inteligência do sujeito em ação; o terceiro é fruto do ensino escolar.O segundo é tributário dos avanços psicolingüísticos e sociolingüísticos; assim o sujeito em ação obterá resultados mais favoráveis.
O importante na leitura é o leitor em ação interando-se do texto, e este mesmo texto levando-o a outros pensamentos, reportando-o a outros acontecimentos, ajudando-o a resolver situações concretas ou abstratas; é o texto lhe dando prazer.
Para que a criança desenvolva o gosto e a prática literária é preciso que ela seja muito estimulada, como já vimos anteriormente. O professor exerce um papel fundamental nisto.
Essa afirmativa é ressaltada por Fanny Abramovich:
Ler é um prazer. É uma gostosura. Mas para o aluno ser um apaixonado pela leitura, é preciso que o professor também seja. Para poder passar essa sensação de entrar no mundo através do imaginário, do fantástico, da brincadeira, da plenitude. O professor que lê com prazer, com volúpia, com garra, com curiosidade atiçada, com entusiasmo vibrante, terá alunos que também serão grandes leitores. Melhor para todos. [9]
O professor tem a função de mediador no momento de leitura ocorrido em sala de aula. Ele pode incentivar os seus alunos a lerem: os seus desenhos, suas próprias histórias e as de seus colegas, os livros da biblioteca da classe, as obras que forem indicadas, livros trocados em sala pelos alunos, assistindo a um filme/desenho, etc.
Convive-se com o paradoxo: a literatura é útil ou inútil na vida do ser humano?Segundo Barthes, “é a própria inutilidade do texto que é útil”[10], portanto, utiliza-se o prazer do texto através de sua inutilidade, pois quanto maior o número de textos literários lidos, o leitor estimula mais sua imaginação, viaja por caminhos nunca viajados, desperta por soluções não pensadas ainda, redescobre-se, reafirma-se, conhecendo-se.
Piaget nos ensinou que o homem não tem um comportamento inato como, também, suas atitudes não são resultados de condicionamentos. O homem na verdade, apresenta um comportamento construído por ele próprio ao interagir com o meio em que vive.
A partir desta afirmativa, o professor que tem a função de favorecer o desenvolvimento da criança, deve oportunizar em sua sala de aula, situações em que o aluno possa exercitar-se como ser social capaz de utilizar diferentes linguagens para se comunicar e resolver problemas.
O leitor dialoga com o texto e com o autor do mesmo ao lê-lo. Ele em seu pensamento coloca seu saber, sua visão no momento de leitura, questionando, concordando, sofrendo, alegrando-se muitas vezes com o texto, isto é salutar no processo de leiturização.
O autor é aquele que brinca com as palavras; o texto pode ter interpretações imprevisíveis; o leitor a proporção que lê, se constitui, se identifica.
Cada leitor é capaz de elaborar um sentido ao texto, ele compreende de acordo com suas vivências, oportunizando assim a criação de um novo texto, e como o pensamento, que não é puro e nem é acabado, é o texto.

AS TRANSFORMAÇÕES POSITIVAS QUE OS TEXTOS LITERÁRIOS PROPORCIONAM AO LEITOR
Ao texto pode-se atribuir o sentido material ou imaginário. O leitor pode percebê-lo como uma espécie de escritura somente, pode reduzi-lo ao plano comum, onde o prazer é altamente enganado, substituído, esquecido por simplificações, explicações banais ou ele pode ser algo a se contemplar, a ser sentido, imaginado, renovado ao encontro do indivíduo; incutindo-lhe o prazer.
Somente a leitura de prazer pode levar o indivíduo à crítica. E através da crítica as modificações, sejam internas ou externas, acontecem.
Ouve-se muito falar em Cidadania, no entanto, urge que o Sistema Educacional Brasileiro se modifique realmente em prol da Educação, que as Leis Educacionais priorizem o ensino de qualidade, viabilize estruturalmente uma educação para todos, numa sociedade igualitária, onde as pessoas tenham igualdade de chance, e o saber seja oportunizado e distribuído para que não só a elite seja governante do país, mas sim, todos aqueles que mostrarem competência para administrá-lo, assim se estará pensando no cidadão.
Para Orlandi,
A educação é uma via eficaz para a formação da consciência crítica. Através da leitura se tem acesso ao saber, e pelo domínio do saber pode-se explicitar os mecanismos do funcionamento da sociedade. Duas coisas acontecem: aumenta a autoridade do Estado, mas, ao mesmo tempo, se cria a possibilidade da consciência crítica. [11]
O leitor vai se formando no decorrer de sua existência, em suas experiências de interação com o universo natural, cultural e social em que vive. “A leitura é um ato cultural em seu sentido amplo, que não se esgota na educação formal. Deve-se considerar a relação entre o leitor e o conhecimento, assim como a sua reflexão sobre o mundo”.[12]
Percebe-se a necessidade de se questionar a importância do conhecimento legítimo, pois ele não é acabado. Ele é um fazer contínuo, onde o sujeito do ato em questão interage com o objeto a ser conhecido. E essas transformações entre sujeito e objeto são permanentes na busca do conhecimento. O autor Vigotsky deixa isto muito claro em seus estudos sobre a “zona de desenvolvimento proximal”[13], pois o sujeito (ser pensante) interage com o objeto (algo a conhecer) transformando-se, ampliando e modificando o seu saber.
Ler precisa ser uma prática na vida do ser humano para que ele possa expressar seus sentimentos, suas dúvidas, refletir sobre os acontecimentos gerais e ter uma postura de vida mais saudável e crítica.
Considera-se o prazer do texto como um prazer intelectual, que bem desenvolvido leva o leitor ao autoconhecimento.
É lendo que nos tornamos leitores, nos informamos e formamos ao mesmo tempo, tornamo-nos cidadãos, refletindo, agindo e modificando nossa vida pessoal e a sociedade, buscamos nosso aperfeiçoamento, em prol de nossa melhor qualidade de vida.
 


[1] COELHO, Nelly N.O Ensino da Literatura.Rio de Janeiro:J. Olímpio, 1975, p. 166.
[2] JOLIBERT, Josette.Formando Crianças Leitoras.Porto Alegre:Artes Médicas, 1994, p. 129.
[3] GUEDES, Cilene.Leitura.Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 25 abr. 1999, p. 1.
[4] MERANI, Alberto L.Natureza Humana e Educação.Trad. por Helena L. Santos.Lisboa:Editorial Notícias, 1978,p. 55.
[5] “A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele.Linguagem e realidade se prendem dinamicamente, a compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto”. FREIRE, Paulo.A importância do Ato de Ler. São Paulo:Cortez, 1983,p. 11-2.
[6] GROSSI , Esther P. & BORDIN, Jussara.Construtivismo Pós-Piagetiano:Um novo paradigma sobre aprendizagem. Rio de Janeiro:Vozes, 1993, p. 178.
[7] Tradicionalismo:a escola tradicional trabalhava apenas em volta do terceiro eixo.Idem, p. 178.
[8] Construtivismo:as propostas progressistas tendem a supradimensionar o primeiro eixo.Idem, p. 178.
[9] ABRAMOVICH, Fanny.Formato.Catálogo Infantil.Rio de Janeiro, 1999.
[10] BARTHES, Roland.O Prazer do Texto.São Paulo:Perspectiva, 1996, p. 34.
[11] ORLANDI, Eni P.Discurso e Leitura. São Paulo:Cortez, 1996, p. 209.
[12] Idem, p. 210.
[13] VIGOTSKY, L. S.Pensamento e Linguagem.Trad. Jeferson Luis Camargo.São Paulo:Martins Fontes, 1993, p. 121.


Tipos de Discursos

TIPOS DE DISCURSOS


Ao lermos um texto, observamos que há um
narrador, que é quem conta o fato. Esse locutor ou narrador pode introduzir outras vozes no texto para auxiliar a narrativa.

Para fazer a introdução dessas outras
vozes no texto, a voz principal ou privilegiada, o narrador, usa o que chamamos de discurso. O que vem a ser discurso dentro do texto? Discurso é a forma como as falas são inseridas na narrativa.
O discurso pode ser classificado em: direto, indireto e indireto livre.
Discurso direto: reproduz fiel e literalmente algo dito por alguém. Um bom exemplo de discurso direto são as citações ou transcrições exatas da declaração de alguém.

- Primeira pessoa (eu, nós) – é o narrador quem fala, usando aspas ou travessões para demarcar que está reproduzindo a fala de outra pessoa.
Exemplo de discurso direto: “Não gosto disso” – disse a menina em tom zangado.
Discurso indireto: o narrador, usando suas próprias palavras, conta o que foi dito por outra pessoa. Temos então uma mistura de vozes, pois as falas dos personagens passam pela elaboração da fala do narrador.

- Terceira pessoa - ele(s), ela(s) – O narrador só usa sua própria voz, o que foi dito pela personagem passa pela elaboração do narrador. Não há uma pontuação específica que marque o
discurso indireto.
Exemplo de discurso indireto: A menina disse em tom zangado, que não gostava daquilo.
Discurso indireto livre: É um discurso misto onde há uma maior liberdade, o narrador insere a fala do personagem de forma sutil, sem fazer uso das marcas do discurso direto. É necessário que se tenha atenção para não confundir a fala do narrador com a fala do personagem, pois esta surge de repente em meio a fala do narrador.
Exemplo de discurso indireto livre: A menina perambulava pela sala irritada e zangada. Eu não gosto disso! E parecia que ninguém a ouvia.
Tempo Verbal:
O
tempo verbal também é fator determinante dos discursos. O discurso indireto estará sempre no passado em relação ao discurso direto.
Discurso direto - tempos verbais
Presente do indicativo: “Não gosto disso” – diz a menina em tom zangado. Pretérito perfeito do indicativo: “Não gostei disso” – disse a menina em tom zangado.Futuro do indicativo: “Não gostarei disso” – disse a menina em tom zangado.Imperativo: - Vista o agasalho, meu filho.
Discurso Indireto – tempos verbais
Pretérito imperfeito do indicativo: A menina afirmou que estava zangada.Pretérito-mais-que-perfeito do indicativo: A menina afirmou que estivera zangada (composto – A menina afirmou que tinha estado zangada)Futuro do pretérito : A menina disse que estaria zangada.Pretérito imperfeito do subjuntivo: A mãe recomendou-lhe que vestisse o agasalho.

O Cortiço

                                      O CORTIÇO

 Amâncio de Vasconcelos, um jovem maranhense, vem para o Rio de Janeiro, com o propósito de realizar o curso de Medicina. De início hospeda-se em casa de um conhecido da família, Luís Campos, que vivia com sua mulher Dona Maria Hortência e uma cunhada, Dona Cadotinha. Entretanto, Amâncio encontrara-se! Com um amigo e co-provinciano, Paiva Rocha, e passa a viver uma vida desvairada e boêmia. As extravagâncias de chegar altas horas da noite, faltar às aulas, embebedar-se, não lhe eram permitidas em casa de Campos. Por outro lado, o jovem estudante começara a despertar um certo interesse no coração de Hortência. Levado por esses motivos, resolve ele mudar-se para a pensão de João Coqueiro, que lhe fora apresentado por Paiva Rocha. Acaba envolvido por Amélia, irmã de João Coqueiro, que finge ignorar o romance e explora-a, exigindo dinheiro do rapaz (Amâncio). Enredado no ambiente asfixiante e corrupto da pensão de João Coqueiro e de Mme. Brizard, sua mulher, envolvido em uma série de tramas, Amâncio resolve viajar para São Luís, para rever a mãe, agora viúva. João Coqueiro suspeita da viagem, e consegue que a polícia prenda Amâncio sob acusação de defloramento, da qual o estudante é absolvido, em rumoroso julgamento.
Inconformado com a absolvição, João Coqueiro assassina Amâncio com um tiro.

Observações Importantes

Casa de Pensão é uma espécie de narrativa intermediária entre o romance de personagem (O Mulato) e o romance de espaço (O Cortiço). Como em O Mulato, todas as ações ainda estão vinculadas à trajetória do herói, nesse caso, Amâncio de Vasconcelos. Mas, como em O Cortiço, a conquista, ordenação e manutenção de um espaço é que impulsiona, motiva e ordena a ação. Espaço e personagem lutam, lado a lado, para evitar a degradação.
O romance foi inspirado em um caso verídico, a Questão Capistrano, crime que sensibilizou o Rio de Janeiro em 1876/77, envolvendo dois estudantes, em situação muito próxima à da narração de Aluísio Azevedo.
As teses naturalistas, especialmente o Determinismo, alicerçam a construção das personagens e das tramas.
No texto que transcrevemos a seguir, Aluísio Azevedo, ao descrever a formação de Amâncio Vasconcelos, mostra os fatores que determinaram o seu comportamento e o seu destino: a educação severa do pai e do mestre-escola, a superproteção da mãe, a sífilis contraída da ama-de-leite, que são as geratrizes de uma personalidade reprimida e hipócrita:
"... esses pequenos episódios de infância, tão insignificantes na aparência, decretaram a diluição que devia tomar o caráter de Amâncio. Desde logo habituou-se a fazer uma falsa idéia de seus semelhantes; julgou os homens por seu pai, seu professor e seus condiscípulos. - E abominou-os. Principiou a aborrecê-los secretamente, por uma fatalidade do ressentimento, principiou a desconfiar de todos, a prevenir-se contra tudo, a disfarçar, a fingir que era o que exigiam brutalmente que ele fosse. "
Inseguro, necessitado de proteção materna, Amâncio procura na pensão carioca o substitutivo da família, incapaz de perceber as ciladas que lhe são armadas pela proprietária, Mme. Brizard e pela sensual Amélia. O dinheiro é a mola dessa sociedade corrupta e hipócrita. Observe o cinismo dos pensamentos de João Coqueiro, refletindo sobre o comportamento que sua irmã, Amélia, deveria simular, para envolver Amâncio:
"Amélia, desde que se convertesse numa necessidade para a vida de Amâncio, este, com certeza, seria o mais interessado em fazer dela sua esposa; por conseguinte, agora o que convinha era que a rapariga também ajudasse de sua parte, empregando todo o jeito e boa vontade de que pudesse dispor.- devia mostrar-se cordata, simples nos seus gostos, bem arranjadinha, amiga do asseio, honesta, digna, enfim, de um marido!"

Dicas de Redação

                            DICAS DE PRODUÇÃO TEXTUAL
                                                                                                                  
                                                                                                              
Veja a seguir a relação dos erros mais freqüentes em redação:

1) Para “mim” fazer: o “mim” não faz, porque não pode ser sujeito.
2) “Há” cinco anos “atrás”: há e atrás indicam passado na frase. Dessa forma deve-se usar apenas “há cinco anos” ou “cinco anos atrás”.
3) Venda “à” prazo: não se usa o acento grave antes de palavra masculina, a não ser que esteja subentendida à moda.
4) Todos somos “cidadões”: o plural de cidadão é cidadãos.
5) Entre “eu” e você: Depois da preposição, usa-se mim ou ti.
6) Que “seje” eterno: o subjuntivo de ser e estar é seja e esteja.
7) Ela é “de” menor: neste caso o “de” não existe.
8) Creio “de” que: não se usa a preposição “de” antes de qualquer “que”.
9) Ela veio, “mais” você, não: usa-se neste caso o “mas”, conjunção, que indica restrição, ressalva.
10) Falo alto porque você “houve” mal: neste caso o houve é pretérito do verbo haver (existência), ao se referir à audição usa-se “ouve”.

Paulo, O Plantador de Igreja

Paulo, Plantador de Igrejas:
Repensando Fundamentos Bíblicos da Obra Missionária

Augustus Nicodemus Lopes
A igreja americana "Catedral da Esperança," em Dallas, Texas, é uma das maiores igrejas da denominação Comunidade de Igrejas Metropolitanas dos Estados Unidos e está entre as que mais crescem na América, com uma média de 1600 pessoas, nos domingos pela manhã, na Escola Dominical. Isto a coloca na faixa de 1% das igrejas nacionais que têm mais de 1.000 membros. O pastor da igreja, Michael Piazza, já está se queixando de que o espaço é pequeno e deseja comprar um novo prédio. Surpreendentemente, trata-se de uma igreja que atende a população homossexual e lésbica. Piazza deseja tornar a Catedral numa "catedral psicológica," que venha servir como o centro espiritual mundial dos homossexuais e lésbicas cristãos.(1)
Estou citando este caso para exemplificar que é perfeitamente possível fazer uma igreja local crescer sem que isso tenha algo a ver com a doutrina bíblica correta. É possível provocar a expansão de um organismo eclesiástico, sem que essa expansão seja necessariamente o resultado de uma visão correta das Escrituras ou de uma perspectiva correta acerca da obra missionária da Igreja. A separação entre teologia e missões tem causado graves problemas à Igreja de Cristo no mundo. Até algum tempo atrás, missões era o resultado inevitável de uma teologia baseada na Palavra de Deus. Vemos isto na vida e obra do grande missionário batista William Carey, que viveu no século passado. Carey era um calvinista ardoroso, que tinha um coração inflamado por missões e não podia compreender a obra missionária como outra coisa senão a extensão das suas convicções como crente no Senhor Jesus.(2) A teologia da Sociedade Missionária de Londres que ele fundou tem sido descrita como "... em todos os sentidos ... um evangelicalismo com forte inclinação calvinista."(3) Ian Murray menciona que no culto de abertura da Sociedade, Rowland Hill, um dos pregadores, reconhecendo o esforço missionário dos seguidores de João Wesley, desejou-lhes entretanto "uma melhor teologia."(4) Mais recentemente, ao escrever a introdução de uma obra contendo artigos de vários autores reformados sobre crescimento da igreja, Harvey Conn declara que "os autores permanecem convencidos de que a pregação e a aplicação da teologia da graça soberana produzirá muito fruto na igreja mundial em crescimento. As igrejas da Coréia e da Nigéria dão um testemunho atual sobre isso."(5) Mas infelizmente a separação entre teologia e missões tem penetrado nas igrejas e organizações missionárias no período moderno, e tem produzido efeitos perniciosos até o dia de hoje.(6)
A afirmação de Michael Green de que "quase todo teólogo não gosta de evangelização e quase todo evangelista não gosta de teologia,"(7) é mais verdadeira, infelizmente, do que desejaríamos. Toda reflexão teológica deveria desembocar em subsídios para o esforço expansionista da Igreja de Cristo. Esses esforços, por sua vez, nada mais podem ser do que teologia em ação. Na verdade, quando a nossa prática missionária não é fertilizada e controlada por uma reflexão teológica correta, ela acaba se tornando em ativismo, desempenho estilizado ou simplesmente uma aplicação frenética de métodos.
Desejo propor neste artigo que na atividade do apóstolo Paulo como plantador de igrejas nós encontramos esta combinação de teologia com visão missionária. Gostaria de tomar Paulo como modelo (poderia tomar o Senhor Jesus ou um outro apóstolo) pois é o que ele fez e escreveu que deve servir como nosso referencial _ e não teorias modernas baseadas no pragmatismo americano. Em seus labores vemos como a teologia e o desejo de fazer a Igreja crescer encaixam-se harmoniosamente.
Merecidamente, Paulo passou para a história não somente como o maior teólogo do cristianismo, mas também como o seu maior missionário. Como sabemos, o cristianismo nasceu judeu. O seu fundador era judeu, o cristianismo nasceu em uma cidade judia, a capital do judaísmo, seus primeiros apóstolos eram todos judeus e sua mensagem era proclamada em referência aos escritos dos judeus. Poucos anos após a morte do apóstolo Paulo, o Império Romano reconhecia o cristianismo como um fenômeno gentílico. Para que tenhamos uma idéia do labor do apóstolo Paulo como fundador de igrejas, em menos de dez anos, entre os anos 47 e 57, ele plantou igrejas em quatro províncias do Império Romano: Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia proconsular. Depois de dez anos plantando igrejas, ele escreve aos romanos que já não tem campo de atividade naquelas regiões (Rm 15.23). Paulo passa para a história, então, como uma combinação de teólogo profundo e missionário fervoroso.

I. As Motivações de Paulo

O que motivava o apóstolo Paulo a sair plantando igrejas, organizando comunidades ao longo da bacia do Mediterrâneo, apesar da rejeição dos seus patrícios e das implacáveis perseguições que sofria? O que o movia não eram arroubos de piedade, espírito proselitista, amor ao lucro, popularidade ou qualquer outra motivação similar. Essas motivações não teriam suportado as angústias do campo missionário por muito tempo. Paulo estava motivado por suas convicções teológicas. Sua ação missionária era resultado dessas convicções. E elas eram de tal natureza que impeliam o apóstolo a ir ao mundo para proclamar o Evangelho e plantar novas igrejas. No que se segue, gostaria de destacar algumas dessas convicções que considero vitais para a nossa compreensão do tema deste artigo.

A. Os Últimos Dias já Começaram

A primeira dessas convicções é que Paulo estava vivendo nos últimos dias, dias de cumprimento, em que os fins dos séculos haviam chegado (1 Co 10.11). Seus dias eram um período momentoso da história da humanidade, em que todas as antigas promessas de Deus estavam sendo cumpridas através da vida e obra de Jesus de Nazaré. Ele estava persuadido de que a era escatológica, prometida pelos profetas, havia raiado pouco antes de sua conversão, que a plenitude do tempo havia se consumado com a vinda do Filho de Deus em carne (Gl 4.4; Ef 1.10), que o reino de Deus havia irrompido na pessoa de Cristo, que em Cristo Jesus a redenção agora se anunciava a todos os homens (2 Co 6.2b: "eis, agora, o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação") e a nova criação tinha início (2 Co 5.17).(8)
Não somente isto. Ele mesmo havia sido alcançado pelos efeitos do período em que vivia. Ele, que antes era perseguidor do cristianismo, havia sido alcançado pela graça de Deus e tornara-se um defensor do que antes procurava destruir. Havia experimentado em sua alma o poder da nova era que havia se iniciado em Cristo Jesus (1 Tm 1.12-15). Mais ainda, Paulo estava plenamente convencido de que outras promessas e profecias, além daquelas referentes à vinda do Messias, estavam igualmente se cumprindo: (1) A restauração e a reconstrução de Israel através do remanescente fiel do qual os profetas freqüentemente falaram, que eram os israelitas que criam em Cristo (Romanos 9); (2) A vinda de todos os povos para adorarem a Deus, antecipada pelos antigos profetas. Paulo percebia o cumprimento daquelas promessas diante de seus próprios olhos, através do seu ministério, pela entrada dos gentios na Igreja de Cristo (cf. Rm 15.9-21).
Assim, Paulo compreendia sua época como o início de um tempo especial da história, em que Deus estava consumando o seu plano de fazer convergir em Cristo todas as coisas, tanto as que estão no céu como as que estão na terra (Ef 1.10). Não podemos perder de vista essa perspectiva, porque está presente em todo o pensamento de Paulo e influencia decisivamente a sua atividade como plantador de igrejas.

B. A Igreja é a Plenitude de Cristo

A segunda convicção do apóstolo Paulo era que as antigas promessas de Deus encontravam concretização histórica na Igreja de Cristo. Era na Igreja que a restauração de Israel, profetizada nas Escrituras do Antigo Testamento, se consumava. Era na Igreja que a plenitude dos gentios estava entrando. Por isso Paulo fala da Igreja como sendo a plenitude de Cristo (Ef 1.23). É por isso que ele fala da Igreja como sendo um novo homem, uma nova criação, feita de judeus e gentios, o remanescente fiel de Israel e dos gentios, que agora está sendo trazido à obediência de Cristo Jesus (Ef 2.15; 4.24; Cl 3.10).
Esse entendimento de Paulo sobre a Igreja como comunidade escatológica o levava a sair plantando igrejas locais. Tal atividade era uma conseqüência de como ele entendia a Igreja. Não era um mero ativismo: plantar igrejas por plantar igrejas. Ele não podia fazer outra coisa porque entendia exatamente o que era ser Igreja. Era na Igreja que as antigas promessas encontravam plena consumação.

1. Consciência do Chamado Divino para Edificar a Igreja

A terceira convicção de Paulo era que Deus o havia chamado para edificar essa Igreja. O apóstolo reflete essa persuasão freqüentemente em seus escritos. A linguagem de edificação está presente em quase todos os seus escritos, e está relacionada com o conceito da Igreja como a "casa," o "edifício," o "templo" de Deus (cf. 1 Tm 3.15; 1 Co 3.9; Ef 2.21; 1 Co 3.16; Ef 2.21). A palavra edificação e o verbo edificar aparecem freqüentemente quando Paulo fala do crescimento da Igreja (cf. 1 Co 3.10,12; Gl 2.18; Ef 2.22).
Paulo vê a Igreja como uma edificação cujo fundamento é o próprio Cristo (1 Co 3.11), conceito que tem origem nas palavras do próprio Senhor Jesus, quando disse a Pedro: "... e sobre esta pedra [a confissão de Pedro de que Jesus era o Cristo] edificarei a minha igreja" (Mt 16.18). Paulo tinha consciência de que Cristo o havia chamado para ser um instrumento pelo qual essa edificação ocorreria.
a) Edificação como Expansão
É importante observar que Paulo usa o termo edificação e seus derivados em dois sentidos relacionados, porém distintos:
Algumas vezes, quando fala de "edificação" da Igreja, Paulo está se referindo à sua expansão. Isso fica claro em Romanos 15.20, onde declara que seu alvo é anunciar o evangelho aonde Cristo não fora ainda ouvido, "para não edificar sobre fundamento alheio." Por isso, quando ele fala em "edificação" temos de lembrar que existe esta dimensão de expansão, de crescimento, de adição. Tal expansão ocorreria à medida em que a plenitude dos gentios, conforme as antigas promessas, fosse entrando na Igreja de Cristo (Rm 11.23). O alvo de Paulo, portanto, era edificar a Igreja pela obra de expansão missionária. É neste sentido que ele chama a si mesmo de "construtor," ao falar aos coríntios sobre a sua estada naquela cidade e a plantação da igreja ali: "Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor [arquiteto, no grego]; e outro edifica sobre ele" (1 Co 3.10). Para Paulo estava claro que seu trabalho como arquiteto, como edificador, era lançar os fundamentos da Igreja para sua expansão. É por isso que ele fala: "outro edifica sobre ele" (v.10).
b) Edificação como Fortalecimento
Mas há um outro sentido paralelo, que anda junto com esse sentido de expansão, e que por vezes tem sido ignorado nos nossos planos de fazer a igreja crescer. Para Paulo a edificação da Igreja não somente era um avanço numérico, mas era igualmente o fortalecimento daqueles que já haviam "entrado." É neste sentido que ele usa o verbo edificar em Efésios 4.12. Na passagem, o apóstolo ensina que o Senhor glorificado concedeu dons à Igreja com o objetivo de aperfeiçoar os santos para que desempenhem seu serviço, isto é, para a edificação do corpo de Cristo. O contexto da passagem deixa claro que Paulo não está falando de extensão (embora também mencione o dom de evangelista), mas de fortalecimento. Talvez possamos dizer que não há uma distinção rígida no pensamento de Paulo _ e nem em sua prática _ entre o fazer a Igreja se expandir e o enraizá-la, fundamentá-la e fortificá-la. São duas coisas que andam juntas na obra do apóstolo. Era assim que ele entendia a sua vocação. O seu apostolado consistia não somente em plantar igrejas (edificação como expansão) mas em firmá-las e fundamentá-las (edificação como fortalecimento).
Há um outro aspecto importante a ser notado: Paulo não via qualquer contradição entre a atuação soberana de Deus em fazer a Igreja crescer, e a sua responsabilidade de empregar todos os esforços possíveis para isto. Em 1 Coríntios 3.5-9, onde fala do seu trabalho apostólico em Corinto, ele diz: "Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus." Crescimento abrange não somente o plantar, mas o regar, e os resultados advindos daí. E esse crescimento, diz Paulo, vem de Deus. Ao final de sua terceira viagem missionária, escrevendo aos romanos, o apóstolo faz uma retrospectiva do seu trabalho durante aqueles anos:
Não ousarei discorrer sobre cousa alguma senão daquelas que Cristo fez por meu intermédio, para conduzir os gentios à obediência, por palavras e por obras, por força de sinais e prodígios, pelo poder do Espírito Santo; de maneira que, desde Jerusalém e circunvizinhanças, até ao Ilírico, tenho divulgado o evangelho de Cristo" (Rm 15.18-19).
Aqui vemos como Paulo atribui a Cristo o poder, a energia e o crescimento da Igreja; enfim, o resultado dos seus labores. Paulo tinha plena consciência desse fato. Em certo sentido, podemos dizer que missões é obra de Deus; começa em Deus, continua com ele e termina nele. Alguns estudiosos de missões têm sugerido que devemos falar, não em missiologia e sim em missiodeologia. Missões é exatamente a atuação de Deus neste mundo perdido, implantando o seu reino e trazendo para dentro dele aqueles que ele quis.
É extremamente importante observar que a consciência deste fato não se constituía em um empecilho para que Paulo saísse plantando igrejas. Nunca houve, talvez, uma pessoa que se esforçasse tanto para fazer a Igreja crescer. William Carey, o missionário calvinista que no século passado plantou 26 igrejas na Índia e traduziu parte das Escrituras em 34 das línguas faladas naquele país, disse:
Nós temos certeza de que somente aqueles que foram destinados à vida eterna crerão, e que somente Deus pode acrescentar à Igreja aqueles que serão salvos. Entretanto, vemos com admiração que Paulo, o grande campeão das gloriosas doutrinas da graça livre e soberana, foi o mais destacado em seu zelo pessoal de persuadir os homens a se reconciliarem com Deus.(9)
Ao mesmo tempo em que o apóstolo Paulo tinha plena consciência de que missões, plantação e crescimento de igrejas era uma obra divina, ninguém mais do que ele esforçou-se para persuadir as pessoas a entrarem no reino de Deus. Ele labutou ardorosamente, gastou-se de forma sacrificial para edificar a Igreja de Cristo, tanto na sua expansão como na sua fundamentação.
Em Paulo vemos a conjugação da convicção plena na soberania de Deus e da responsabilidade da Igreja de anunciar o Evangelho ao mundo. Por vezes essas duas coisas têm sido divorciadas na nossa prática e reflexão missiológica. Porém, ambas têm de estar presentes. A crença plena na absoluta soberania de Deus, na doutrina da predestinação, de que Deus tem os seus eleitos, longe de ser um obstáculo para a evangelização e plantação de igrejas é na verdade a única base genuína que podemos ter para persuadir os homens. Caso Deus não houvesse elegido milhares e milhares para a vida eterna, os nossos esforços seriam em vão. Melhor seria se "ficássemos em Jerusalém." Mas, exatamente porque Deus tem os seus eleitos é que saímos ao mundo em plena convicção, persuadindo os homens e orando, na expectativa de que através de nosso ministério, Deus estará operando e chamando os gentios e fazendo com que sua plenitude venha.

2. A Proclamação das Boas Novas como Instrumento de Edificação da Igreja

Paulo estava totalmente convencido de que a edificação da Igreja, para a qual ele havia sido chamado, acontecia pela proclamação das boas novas e pela organização em igrejas locais daqueles que aceitavam as boas novas. Tal processo continuaria a ocorrer até que a plenitude dos gentios entrasse.
Isso ocorreria através da proclamação das boas novas. Deus haveria, através do Evangelho, de reunir os gentios, o remanescente fiel de Israel. No livro de Atos, freqüentemente, o crescimento da Igreja é descrito como sendo a multiplicação da Palavra, ou ainda, o crescimento da Palavra de Deus (At 6.7; 12.24; 19.20). Para a Igreja apostólica e, em particular, para o apóstolo Paulo, as duas coisas andavam juntas. Era pela Palavra de Deus que a Igreja seria edificada em ambas as dimensões, tanto a sua expansão quanto o seu fortalecimento. Paulo fala do seu ministério como sendo para dar pleno cumprimento à palavra de Deus (Cl 1.25). Todas as vezes que ele se refere ao seu chamado ao apostolado, ocorrido na estrada de Damasco, sempre fala como tendo recebido uma comissão divina para dar testemunho do Evangelho de Cristo, para anunciar diante dos reis, autoridades e diante de todos os homens as boas novas da redenção em Cristo Jesus.
Estas eram as convicções que levaram Paulo a plantar igrejas. Um homem dominado por estas convicções não pode fazer outra coisa, não tem outro método, outro anseio na vida. Evangelização, missões, plantação e edificação de igrejas tenderão a brotar naturalmente de uma Igreja que tenha tais convicções claras diante de si. É interessante ver que, nas cartas que ele escreveu para as igrejas, praticamente não há exortação a elas para que evangelizem. Paulo não precisava "chicotear" as igrejas que ele havia fundado, para se engajarem no trabalho missionário. Aparentemente, era algo que elas faziam normalmente. É verdade que ocasionalmente Paulo as convida a se juntarem a ele em seu trabalho de expansão do Reino. Mas ele não precisa fazer campanhas especiais para que elas concorressem.
A questão se Paulo tinha um alvo quantitativo, em sua estratégia de plantação de igrejas, é bastante relevante em nossos dias. O estabelecimento de alvos numéricos como parte da estratégia de crescimento de igrejas tem levantado muita polêmica. Creio que Paulo tinha um alvo quantitativo, mas não numérico. O alvo que ele pretendia alcançar com seu trabalho missionário não podia ser expresso em um número qualquer. Paulo tinha como alvo nada menos que "a plenitude dos gentios." Seu propósito era alcançar o maior número possível. Ele sabia que estava vivendo em uma época em que Deus estava trazendo os gentios à Igreja. Ele disse: "Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para que não sejais presumidos em vós mesmos): que veio endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios" (Rm 11.25). O alvo de Paulo, portanto, era que essa plenitude viesse. Equacionar a visão missionária de Paulo em termos de números seria ignorar a grandeza de sua visão. Ele almejava alcançar o maior número possível, para que assim a plenitude dos gentios entrasse na Igreja de Cristo: "... fiz-me escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível" (1 Co 9.19). O alvo de Paulo era o mundo, os gentios, o remanescente fiel, o maior número possível de eleitos, onde os pudesse encontrar. Essa visão, impossível de ser medida em números, fazia parte da motivação de Paulo em sair plantando igrejas ao longo do seu ministério. Não estou dizendo que o crescimento numérico da Igreja é irrelevante. O livro de Atos deixa claro que a igreja cresce, e que este crescimento pode ser expresso em termos estatísticos.(10) Apenas não estou convencido de que esse fato seja suficiente para adotarmos a prática de projetarmos alvos numéricos para crescimento da Igreja em nosso planejamento.

II. Como as Convicções de Paulo Determinavam sua Atuação

A atividade missionária de Paulo era resultado direto da sua teologia. Movido por tais persuasões, o apóstolo desencadeou o maior esforço de implantação de igrejas de que temos notícia.

A. Escolha dos Centros Estratégicos

Paulo percorria as estradas romanas anunciando o Evangelho e organizando os discípulos nas principais cidades das províncias imperiais, que eram centros estratégicos. Ele estava movido pela urgência da convicção de que o reino de Deus havia raiado e a vinda do Senhor Jesus era iminente, de que o Evangelho deveria ser pregado a todas as nações e ele tinha pouco tempo para fazer isso. Então, ele concentrou suas atividades nesses pontos estratégicos do Império Romano. Tessalônica tornou-se a base missionária para a província da Macedônia; Corinto a base para a província da Acaia; e Éfeso, a sua base para a Ásia proconsular.(11)
Seu objetivo era alcançar o maior número possível. Paulo queria ver a plenitude dos gentios, o número total dos eleitos ser arrebanhado na Igreja, se possível, durante sua vida. Às vezes, o apóstolo trai essa sua esperança quando fala da vinda do Senhor: "nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados..." (1 Ts 4.17). Ao incluir-se entre os que estariam vivos por ocasião da parousia, Paulo revela sua expectativa de que, ainda durante os seus dias, ele veria a plenitude dos gentios entrar na Igreja, como os ramos enxertados na oliveira. Ele almejava por isso; era esse o seu alvo.

B. Proclamação da Palavra de Deus

O método de Paulo nesses centros era proclamar, no poder do Espírito, as boas novas de que Deus havia cumprido em Cristo as antigas promessas feitas aos judeus, de mandar um Salvador ao mundo. Era pela proclamação da Palavra que Deus haveria de edificar a sua Igreja. Escrevendo aos crentes de Roma, de quem também pretendia receber apoio para seus planos de ir até a Espanha, o apóstolo faz uma relação entre a pregação do Evangelho e a salvação dos gentios:
Porventura, não ouviram? Sim, por certo: Por toda a terra se fez ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo... Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? (Rm 10.18, 13-15).
Paulo foi perfeitamente consistente com a sua convicção de que aprouve a Deus salvar os que crêem pela "loucura da pregação." Escrevendo aos coríntios ele diz: "Eu, irmãos, quando fui ter convosco... decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado... A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder" (1 Co 2.1-4). Se Paulo quisesse, poderia ter falado de outras coisas. Ele era um dos homens mais cultos da sua época. Porém, propositadamente rejeitou qualquer outra coisa que não o Cristo crucificado como tema da sua proclamação. Esse era invariavelmente o seu método, quer num ambiente em que a Palavra de Deus fosse conhecida (nas sinagogas), ou quando era convidado para estar no meio de filósofos gregos, que não tinham qualquer conhecimento prévio das Escrituras. O seu método era sempre anunciar a Cristo.
Nesse sentido, Paulo considerava-se um pregador e mestre. Ao escrever a Timóteo, ele diz que Deus o chamou para ser "pregador, apóstolo e mestre" (2 Tm 1.10-11). J. I. Packer, comentado sobre a teologia missionária e o método de Paulo, diz que não podemos separar o Paulo "evangelista" do Paulo "mestre." Para o apóstolo, as duas coisas andavam juntas, ao ponto de se confundirem. Ele não podia evangelizar sem ensinar e não podia ensinar sem evangelizar. A isso Packer chama de "pregação educativa."(12)
Vemos este ponto claramente no ministério de Paulo em Tessalônica. Segundo alguns os estudiosos, Paulo passou apenas três a cinco meses naquela cidade. Sua saída abrupta deveu-se à perseguição dos judeus. Ao sair da cidade, o apóstolo deixou atrás de si uma igreja de novos convertidos, que eventualmente foram também perseguidos. Algum tempo depois, estando em outras regiões, Paulo recebeu notícias de que os convertidos de Tessalônica estavam firmes, fundamentados, e que não abandonaram a verdade do Evangelho, a despeito das perseguições e dificuldades que enfrentaram após a saída de Paulo. Ao escrever-lhes pela primeira vez, Paulo os considera como igreja modelo. É a única igreja do Novo Testamento que recebe dele esta recomendação: "...vos tornastes o modelo para todos os crentes na Macedônia e na Acaia" (1 Ts 1.7).
A igreja de Tessalônica era realmente extraordinária. Haviam ficado sem pastor por três meses após sua fundação. E isso num ambiente hostil. Entretanto, estavam fazendo a Paulo perguntas relacionadas com escatologia! (cf. 1 Ts 4.13-18). Um outro aspecto interessante é que Paulo, ao começar sua carta, vai logo falando de predestinação: "...reconhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa eleição" (1 Ts 1.4). Parece totalmente anti-didático, pelos padrões modernos dentro de algumas igrejas evangélicas. Na segunda carta, escrita não muito tempo depois, ele fala da eleição de Deus em termos ainda muito mais claros (cf. 2 Ts 2.13).
Que tipo de pregação produz convertidos dessa qualidade? A resposta está em Atos 17, onde temos narrada a fundação da igreja. Lemos ali que Paulo foi inicialmente à sinagoga, e "por três sábados, arrazoou com eles acerca das Escrituras, expondo e demonstrando ter sido necessário que o Cristo padecesse e ressurgisse dentre os mortos..." (v. 2, 3). Estas três palavras usadas por Lucas para patentear a pregação de Paulo (arrazoar, expor e demonstrar) revelam como o apóstolo anunciava o Evangelho.(13) Arrazoar significa discutir, debater, argumentar com o objetivo de convencer _ parece que era a prática invariável de Paulo, não somente entre os judeus (cf. At 17.17; 18.4,19; 19.8), mas até mesmo perante governadores romanos (At 20.9). Expor significa abrir alguma coisa. É a mesma palavra que Lucas usa para dizer que o Senhor abriu o entendimento de Lídia para compreender o que Paulo estava falando (At 16.14). Expor as Escrituras significa expor a sua mensagem, revelar o seu conteúdo. Demonstrar significa, entre outras coisas, colocar ao lado. É usado para alimentação (Lc 11.6) e no sentido de fornecer evidências, provar alguma coisa, talvez por comparação, colocando uma coisa ao lado de outra. Era isto o que Paulo fazia: "Aqui estão as promessas das Escrituras, que vocês conhecem bem, e aqui está Jesus de Nazaré. Comparem as duas coisas!" Assim ele demonstrava que Jesus era o Cristo.
Nesse aspecto, o evangelista confundia-se com o mestre. Plantando igrejas entre os judeus, o apóstolo tinha de oferecer respostas convincentes a questões polêmicas:
·  ·  1. Se Jesus é o Messias, qual o lugar da Lei de Moisés no plano de salvação?
2. Se a salvação é pela graça, porque Deus outorgou os Dez Mandamentos?
3. Se Jesus é o Messias, por que a nação de Israel o rejeitou?
4. Qual o valor da circuncisão, das leis alimentares e do
calendário judaico para os judeus que se tornavam cristãos?
Paulo tinha de resolver todas estas questões no seu labor missionário. O que quero dizer é que Paulo, o plantador de igrejas, era inevitavelmente Paulo, o expositor. Não podemos separar as duas coisas, especialmente numa época como a nossa. Vivemos num país cujo povo considera-se cristão mas é ignorante das Escrituras. Segundo uma pesquisa feita pela revista Veja, 98% dos brasileiros dizem acreditar em Deus. Porém, se formos perguntar-lhes "quem é Deus," evidentemente teremos as respostas mais estranhas possíveis. Vivemos num ambiente de quase total ignorância bíblica. Por esse motivo, entre outros, não podemos apelar às pessoas para que tomem decisões imediatas por Cristo, sem que antes argumentemos, exponhamos e abramos o sentido das Escrituras para elas. Não podemos sair plantando igrejas às pressas e ainda querer resultados profundos e duradouros. Há todo um trabalho de ensino, de doutrinação, de preparação que deve anteceder, ou, ao menos, caminhar conjuntamente com o trabalho de evangelização e plantação de igrejas.
Precisamos de evangelistas e plantadores de igrejas que sejam capazes de explicar, ensinar e instruir com paciência, para colher o fruto na hora certa. A precipitação pode causar resultados desastrosos. Donald McGavran narra em seu livro Understanding Church Growth o crescimento numérico extraordinário, nas décadas de 60 e 70, do número de decisões por Cristo na tribo Dani, do oeste da Nova Guiné. McGavran destaca especialmente que a queima dos fetiches feita em massa pelos Dani era algo espontâneo.(14) Porém, nem todos os missionários estavam entusiasmados. Alguns opuseram-se à prática, pois a queima de fetiches tinha sido iniciada por um padre católico que havia prometido vida eterna (nunca morrer aqui na terra) aos que fizessem isto.(15) Porém, diz McGavran, "felizmente os Dani sabiam o que iam fazer," e a queima de fetiches continuou.(16) Em outra área da região dos Dani, uma outra missão tomou atitude diferente, conforme relatado nas palavras de Horne:
Milhares de "convertidos" poderiam ter sido batizados imediatamente após as queimas de fetiches. Isso porém teria produzido muitos falsos professos, que depois se desviariam das igrejas. Uma igreja sólida, fundamentada no conhecimento das Escrituras, era o alvo da missão. Portanto, diante da grande mistura de conversões verdadeiras e falsas, a Missão decidiu que ninguém seria batizado até que desse evidência em sua vida de que havia entendido os princípios da fé cristã, e que vivia de acordo com eles... Dos milhares que haviam se decidido por Cristo [e praticaram a queima de fetiches], somente oito Danis foram batizados em Keila, no domingo 29 de julho de 1962.(17)
Lembremos do labor do apóstolo Paulo, expondo, demonstrando, argumentando, persuadindo judeus e gentios pelas Escrituras. Era assim que ele plantava igrejas. E os seus labores deram resultados permanentes. Os seus convertidos foram capazes de suportar as perseguições, mesmo sem pastores para dar-lhes apoio.
Quando Paulo chegou a Atenas, ao sair de Tessalônica, estava em outro ambiente. Ali ele não começa com a exposição das Escrituras, mas começa com o monoteísmo, quando é convidado a falar no Areópago. O apóstolo começa ensinando quem é Deus, o que ele faz e como podemos servi-lo. E dessa forma, argumenta logicamente até chegar a Cristo e sua ressurreição. Era esse o seu método invariável. Era um evangelista-mestre! Não podemos separar estas duas coisas.

C. Organização de Igrejas Locais

Paulo organizava seus convertidos em comunidades, as igrejas locais. O seu objetivo era promover os meios pelos quais eles fossem edificados, instruídos, celebrassem a Ceia, cultuassem a Deus e se envolvessem no próprio projeto de expansão do cristianismo. Paulo os batizava, elegia presbíteros dentre eles a quem encarregava do rebanho (At 14.21-23), e depois de algum tempo voltava para supervisioná-los (At 15.36; 16.4-5; 18.23).
Aqui temos um ponto muito importante. O objetivo de Paulo não era apenas declarar ou anunciar o evangelho _ ele queria persuadir as pessoas, queria convencê-las, ganhá-las para Cristo, e após isto, organizá-las em igrejas e discipulá-las. Isso fazia parte de seu alvo maior, que era ver a Igreja de Cristo edificando-se pela expansão e fortalecimento. Paulo nos ensina com isso que não podemos ficar satisfeitos apenas com uma mera proclamação. Havemos de instar com os homens, persuadi-los, forçá-los (no sentido bíblico) a entrar no Reino de Deus. Nenhum dos que admiram pastores e evangelistas reformados como Richard Baxter, Joseph Alleine, George Whitefield, Jonathan Edwards e C. H. Spurgeon deixarão de concordar que é nosso dever oferecer livremente a todos os homens o Evangelho da graça de Deus, e instá-los a que se convertam de seus pecados e creiam no Evangelho.
Paulo também nos ensina que não devemos cair na missiologia do ativismo. Ele sabia que a sua comissão era edificar a Igreja universal de Cristo pela fundação de comunidades locais. Ao mesmo tempo, ele deixava os resultados dos seus labores nas mãos da providência divina. O crescimento, afinal, vinha de Deus.

III. Implicações Para Uma Filosofia de Plantação de Igrejas

A. Refletir Teologicamente Partindo das Escrituras

Penso que a lição mais importante que podemos aprender com Paulo é que não podemos separar teologia e missões. É prioritário que as igrejas reformadas hodiernas estudem e definam com clareza uma filosofia missionária que brote das Escrituras, que esteja comprometida com a doutrina reformada, com as doutrinas da graça, e que esteja atenta para a realidade brasileira. Creio que este é o ponto de partida. Não estou certo de que hoje, no Brasil, as igrejas reformadas tenham uma teologia missionária nesses termos. Percebemos um aumento significativo do interesse missionário por parte das igrejas reformadas, pelo que damos graças a Deus. Porém, não podemos, num entusiasmo inicial, precipitar-nos no pragmatismo característico dos nossos dias. Precisamos trabalhar os fundamentos teóricos. Isso não quer dizer que vamos parar o que estamos fazendo para primeiro resolver as questões teóricas todas. Podemos ir trabalhando, mas sempre abertos às mudanças em metodologia e estratégia que nos sejam sugeridas pela reflexão teológica profunda. Sem essa fundamentação conceptual corremos o risco de cair num mero ativismo, num "frenesi" de aplicação de métodos sem saber exatamente porque os estamos aplicando. Partindo dessas bases podemos refinar nossa metodologia e aplicá-la ao crescimento da Igreja. A Igreja não pode se deixar seduzir por propostas de crescimento fácil que se baseiam mais no pragmatismo do que no ensino das Escrituras.

B. Priorizar a Pregação Bíblica Expositiva

Podemos também aprender com o apóstolo Paulo que é através da Palavra de Deus que o Senhor edifica a sua Igreja e que uma ênfase redobrada deveria ser dada à preparação de obreiros que "manejem bem a Palavra da verdade" (2 Tm 2.15). O ponto principal é que devemos nos conscientizar de que os plantadores de igrejas precisam ter bom treinamento bíblico e teológico para que possam, desde o começo das novas igrejas, lançar fundamentos profundos que haverão de nortear as comunidades recém fundadas. É necessário, portanto, dar atenção aos institutos bíblicos que formam os evangelistas, aos seminários que formam os pastores, de forma que preparemos pessoas capazes de ensinar o evangelho e plantar igrejas sólidas em solo brasileiro. A pregação bíblica e expositiva é uma necessidade. Em que pese a cristianização do Brasil, o povo é em grande parte ignorante da história da Bíblia e dos seus ensinos. Plantadores de igrejas precisam ser pregadores-mestres, como Paulo. Em outras palavras, precisamos implantar na igreja e no campo missionário a pregação bíblica expositiva. Esse é um dos métodos que Deus mais vem honrando através dos séculos para fazer sua Igreja crescer. E continua a honrar hoje.
Este ponto fica reforçado pelos resultados de uma pesquisa recente, feita por Thom Rainer e sua equipe, entre 576 das igrejas que evangelizam mais eficazmente nos Estados Unidos. Rainer publicou os resultados sob forma de livro.(18) Ele admite que muita coisa foi como ele esperava, mas num capítulo intitulado "Dez Surpresas" ele fala de algumas descobertas inesperadas, pois num certo sentido vão de encontro a alguns conceitos popularizados pelo movimento de crescimento de igrejas. Destaco algumas dessas surpresas:
1. Das igrejas que mais crescem nos Estados Unidos, poucas usam eventos evangelísticos, como, por exemplo, campanhas evangelísticas com pregadores conhecidos e corais convidados. A maioria dessas igrejas considerou ineficaz a promoção desses eventos. Elas gastam muito dinheiro, recursos e tempo na preparação, e somente uns poucos dos que se decidem durante o evento acabam ficando e sendo batizados nas igrejas. Em geral, as igrejas que mais crescem são as que simplesmente mantêm sua programação regular de cultos.(19)
2. Ministérios durante a semana não são necessariamente eficazes para o crescimento da Igreja. Na maioria das igrejas que estão crescendo, o número maior de convertidos vêm dos cultos regulares, especialmente aos domingos. Alguns estudiosos têm defendido o que chamam de "igrejas de sete dias por semana," que oferecem toda sorte de atividades à comunidade, como creches, escolas, e outros ministérios. Alguns até mesmo defendem que há estreita relação entre essas atividades semanais e o crescimento de igrejas.(20) A pesquisa de Rainer, porém, aponta na direção oposta.(21)
3. A evangelização tradicional está viva e "passando bem." O antigo método de evangelismo porta-a-porta tem sido descartado por algumas autoridades em crescimento de igrejas como ultrapassado. Inesperadamente, a equipe de Rainer descobriu que a maioria das igrejas que crescem ainda se utilizam eficazmente desse método. Os líderes destas igrejas disseram que a resistência encontrada nas casas visitadas era a mesma de alguns anos passados. Mas o que importa, disseram, é que a igreja tem de obedecer ao "ide" de Jesus.(22)
4. A localização da igreja não é um fator decisivo no crescimento evangelístico das igrejas. Esta descoberta contraria um princípio central do movimento de crescimento de igrejas, que a localização é fator determinante na plantação de uma nova igreja. Rainer reconhece que uma boa localização oferece mais oportunidades para crescimento. Porém, a boa localização em si não garante o crescimento do número de conversões. Das igrejas entrevistadas pela sua equipe, nove dentre dez responderam que a sua localização não teve qualquer impacto decisivo no aumento de conversões. Igrejas mal localizadas, mas que tinham uma visão evangelística mais agressiva, apresentaram um número crescente de conversões.(23)
5. Uma multiplicidade de opções não melhora necessariamente a eficácia evangelística de uma igreja. Alguns livros de crescimento de igrejas têm caracterizado igrejas eficazes como do tipo "praça de alimentação," que oferecem um leque amplo e variado de atividades para todos os gostos, como cultos mais tradicionais, cultos jovens, cultos mais informais, concertos, encontro de solteiros e viúvos, etc.(24) A igreja torna-se uma agenciadora de várias opções de atuação. Entretanto, a oferta de variedades não provoca necessariamente o crescimento evangelístico das igrejas, conforme os resultados da pesquisa de Rainer. Um bom número de líderes respondeu negativamente, pelo temor de que, no processo de contextualização dessas atividades, a igreja viesse a acomodar-se às demandas do mundo.(25)
Rainer resume o capítulo dizendo que as igrejas que têm sido melhor sucedidas em alcançar os perdidos são aquelas que têm focalizado no que é básico: pregação bíblica, oração, testemunho intencional, missões e treinamento bíblico na Escola Dominical. Essas igrejas rejeitaram toda metodologia que se desvia desses pontos fundamentais, e abraçaram as que os desenvolvem e aprofundam. Rainer conclui dizendo que um dos elementos fundamentais do evangelismo eficaz dessas igrejas era a pregação bíblica expositiva.(26)
Pesquisas como a de Rainer mostram que alguns dos fundamentos do movimento de crescimento de igrejas tão popularizado nos Estados Unidos vêm sendo questionados por um número crescente de estudiosos de missões.(27) Infelizmente, em que pesem as reivindicações de alguns defensores do movimento, os evangélicos dos Estados Unidos não têm experimentado um crescimento em número de conversões que venha validar os métodos empregados pela maioria das denominações. O Anuário das Igrejas Americanas de 1997 (1997 Yearbook of American Churches) traz os números do crescimento das 78 principais igrejas evangélicas dos Estados Unidos. Os números dessa fonte oficial não são encorajadores. Verificou-se que 190.420 igrejas locais registraram um aumento de 32.951 membros em 1996. A média é de menos de dois novos membros para cada cinco igrejas anualmente.(28) Esses números tornam-se ainda mais reveladores quando consideramos que mais de 80% das igrejas americanas têm menos de cem membros.(29) É bom lembrar que o movimento de crescimento de igrejas nasceu nos Estados Unidos e tem influenciado de modo prático a metodologia evangelística e missionária das principais denominações. Os números mostram que não está havendo crescimento global. Devemos nos perguntar se a ideologia e os métodos desse movimento americano funcionariam aqui no Brasil. Num artigo recente, dois missiólogos que fizeram estatísticas na América Latina apontam para o fato de que as igrejas pentecostais, que são as que mais crescem, surgiram por "combustão espontânea" e não como resultado de uma estratégia planejada das missões das principais denominações.(30) Não estou dizendo que não precisamos de planejamento e de estratégias para plantar igrejas no Brasil. Creio que Solano Portela já deixou claro que os reformados dão extrema importância ao planejamento eclesiástico estratégico.(31) Apenas destaco a necessidade de reafirmarmos os pontos básicos e valorizarmos o que vemos em Paulo, o plantador de igrejas.
Finalmente, podemos aprender com Paulo que nosso alvo em tudo isso é alcançar o maior número possível. Se tivermos de colocar um alvo em nosso planejamento estratégico de plantação de igrejas, deve ser este: até que a plenitude dos brasileiros haja entrado. É este o nosso alvo! Aprendamos com o apóstolo Paulo que plantação de igrejas é obra de Deus. Dependamos dele, orando e fazendo tudo o que estiver ao nosso alcance para persuadir os homens a entrarem no reino de Deus.
English Abstract
The author shows in this article that the growth of churches should be planned as a result of a correct and sound biblical theology. Starting from the apostle Paul´s theological assumptions, Lopes points out that they controlled his practice and were the main source for his motivation to plant new churches everywhere. Paul was theologically driven as a missionary. He knew that the last days had dawned, that the Church was at the center of God´s ultimate plan for the salvation of the elect, and he was convinced that God had called him as an apostle to build this church _ and that he had little time to do that. Lopes also gives some statistics to show that the modern church growth methodology has not succeeded in making North American evangelicals grow. He ends the article by calling the evangelicals in Brazil to plan church growth in the light of biblical principles.
__________________________
Notas
1 Cf. Brad Gooch, "Divine Design," em Out 32 (1996) 65-70.
2 É interessante observar que no livrete Enquiry, onde estabelece os motivos da sua atividade missionária, Carey segue uma seqüência similar à obra Theory of Missions, escrita pelo teólogo e missiólogo alemão Gustav Warneck (1834-1910). Isso mostra que Carey, mesmo sem ter tido o treinamento teológico de Warneck, esboça a sua missiologia teologicamente. Carey nunca usa o argumento das "almas que estão se perdendo" nem justifica-se a partir de suas convicções batistas. Sua preocupação é com a promoção do Reino de Cristo. Ver A. H. Oussoren, William Carey: Especially His Missionary Principles (Leiden: A. W. Sijthoff´s Uitgeversmaatschappij N.V., 1945) 129-30.
3 E. A. Payne, "The Evangelical Revival and Beginnings of the Modern Missionary Movement" em The Congregational Quarterly (1943) 223-236
4 Ian Murray, The Puritan Hope (London: Banner of Truth, 1971), 148.
5 Harvey Conn, ed., Theological Perspectives on Church Growth (Dulk Foundation, USA, 1976). Entre os autores estão J.I.Packer, Edmund Clowney, Roger Greenaway, Arthur Glasser.
6 Para um estudo mais profundo sobre a separação entre teologia e evangelismo, ver James Denney, The Death of Christ (Londres: Hodder & Stoughton, 1902) vii; The Expositor, Junho de 1901, p. 440.
7 Michael Green, Evangelism in The Early Church (Londres: Hodder & Stoughton, 1970) 7.
8 Cf. Herman Ridderbos, Paul: An Outline of His Theology (Grand Rapids: Eerdmans, 1975; reimpresso 1992) 44-46.
9 Citado por Ian Murray, The Puritan Hope, 145.
10 Veja a opinião equilibrada de John M. L. Young, "The Place and Importance of Numerical Church Growth" em Theological Perspectives on Church Growth (Dulk Foundation, USA, 1976) 57-73.
11 Cf. F. F. Bruce, Paul, Apostle of the Free Spirit (Carlisle, Pa.: Paternoster Press, 1977; revisada 1980; reimpressão 1992) 314-5.
12 James I. Packer, "What is Evangelism," em Theological Perspectives on Church Growth (Dulk Foundation, USA, 1976) 100-1. Sempre houve tensão entre educação e missões. Mas veja o comentário equilibrado de F.L. Schalkwijk na página 65 desta revista.
13 Evidentemente, a maneira como Paulo usou as Escrituras na sinagoga pressupunha o conhecimento da mensagem do Antigo Testamento.
14 Donald McGavran, Understanding Church Growth (Grand Rapids: Eerdmans, 1970) 152.
15 Shirley Horne, An Hour to the Stone Age (Chicago: Moody Press, 1973) 126; citado por Young, "The Place and Importance of Numerical Church Growth," 69.
16 McGavran, Understanding Church Growth, 152-3.
17 Horne, An Hour to the Stone Age, 160.
18 Thom Rainer, Effective Evangelistic Churches: Successful Churches Reveal what Works and what Doesn´t (Nashville, Tennessee: Broadman, 1996).
19 Ibid., 29-32.
20 Cf. Lyle Schaller, The Seven-Day-a-Week Church (Nashville, Tennessee: Abingdon, 1992).
21 Rainer, Effective Evangelistic Churches, 39-40.
22 Ibid., 41-2.
23 Ibid., 45-46.
24 Ver o artigo de Charles Arn, "Multiple Worship Services and Church Growth," em NetFax 60 (1996) 1.
25 Ibid., 46-7.
26 Ibid., 48.
27 Entre muitos artigos, veja-se Lyle Schaller, "You can´t believe everything you hear about church growth" em Leadership, 1/18 (1997) 46-50, uma crítica a nove "mitos" do movimento de crescimento de igrejas. Veja ainda a crítica de estudiosos que não são especialistas em crescimento de igrejas, como F. Solano Portela, "Planejando os Rumos da Igreja: Pontos Positivos e Crítica de Posições Contemporâneas," em Fides Reformata 2/1 (1996) 79-98. Ainda, Heber Carlos de Campos, "Crescimento da Igreja: Com Reforma ou Com Avivamento," em Fides Reformata 1/1 (1996) 34-47.
28 Cf. Pastor´s Weekly Briefing (21 de maio de 1997), 1.
29 É ainda relevante notar que existe uma crescente suspeita quanto à confiabilidade das estatísticas realizadas pelas igrejas e que baseiam-se no depoimento dos membros. Segundo estudo recente, muitas pessoas declaram freqüentar regularmente uma igreja, quando na verdade não o fazem. A razão é que desejam ser aceitas socialmente. Declarações igualmente falsas quanto à leitura da Bíblia e à vida de oração podem ser feitas pelas mesmas razões (cf. Christian Century, 11 de setembro de 1996, p. 879). Sobre estatísticas das igrejas, ver ainda Jeannie Jensen, "What does God expect?" em Circuit Rider 20/7 (1996) 12-13, onde a autora propõe novos métodos estatísticos para melhor refletir a realidade. Por outro lado, estatísticas podem trazer alguma moderação no entusiasmo e otimismo de alguns. Enquanto se fala no crescimento explosivo das igrejas evangélicas na América Latina, uma recente pesquisa global revela que em 17 países latino-americanos 42% das pessoas se declararam fortemente comprometidas com a Igreja Católica. Nesses países, a média do número de evangélicos está na faixa de 6% apenas, e a proporção de não religiosos subiu de 5% para 7% ("A Recent continent-wide pool," em Religion Watch, 6/12 [1997] 6-7).
30 Cf. Clayton Berg e Paul Pretiz, "Latin America´s Fifht Wave of the Protestant Church," em International Bulletin of Missionary Research 4/20 (1996) 157-9.
31 Cf. Portela, "Planejando os Rumos da Igreja," 79-87.