quinta-feira, 29 de setembro de 2011

OLHEM O TEXTO QUE PROMETI...

                                    A festinha

                O menino era um capetinha. Desbocado, safadinho, aquela carinha típica de menino matreiro. Vivia sendo expulso das festinhas de aniversário em que comparecia, matando a mãe de desgosto.
                Na última em que comparecera, tinha armado uma brincadeira tão safada no banheiro, que em meia hora a mãe do aniversariante teve de devolvê-lo para casa. E o que falava de palavrão não era brincadeira.
               Passaram meses sem que fosse convidado para festa  alguma no bairro.
              Um dia a mãe dele recebe um telefonema de uma vizinha convidando o garotinho pro aniversário da filha. No fundo, a mãezinha ficou muito feliz, afinal, o menininho dela seria de novo aceito no seu círculo.
              Na hora da festa, arrumou o filho todo bonitinho, penteou o cabelinho do menino e deu muitos conselhos pra ele, “meu filhinho, comporte-se direitinho, não faça a mamãe passar vergonha, não fale palavra feia, não agarre as menininhas, respeite os mais velhos,” essas coisas. Fez o embrulho do presentinho, deu um beijo na testa do menino e disse:
             _ Vai com Deus, meu anjo. Faz tudo direitinho como mamãe falou, viu?
            E o menino foi.
           Dez minutos depois, olha o menino de volta, todo sem graça. A mãe abriu a porta e deu de cara com o menininho ali, com aquele sorrisinho todo amarelinho nos lábios, ah, ela nem conversou:
          _ Capetinha! A gente não pode confiar em você, não é? Foi agarrando o menino pela orelha e falando todas as coisas que mãe fala nestas horas e jogou o menino no banheiro.
         _ Vai ficar preso aí até seu pai chegar pra conversar com você. Eu já não tenho mais paciência. E fechou a porta do banheiro.
         O menino chorou, berrou, soluçou, mas ela o deixou lá.
         Naquele dia, o pai chegou tardíssimo. Já encontrou a mulher resmungando:
         _ O capeta do seu filho só me dá desgosto. Tá preso lá no banheiro esperando você chegar para conversar com ele. E contou tudo o que tinha acontecido. O pai foi lá, abriu a porta, o menino estava deitadinho no chão do banheiro, dormindo, dando aqueles soluços profundos que menino dá quando  adormece depois de um choro muito longo. O pai acordou o filho, sentou-o no colo muito severo e perguntou com voz grave:
       _ Que foi que houve, rapaz?
       E o menino com a vozinha lá no fundo:
       _ A festa foi transferida para amanhã.
PINTO, Ziraldo Alves. In: As anedotas do Pasquim. Rio de Janeiro: Codecri, 1974. p. 10.
 BEIJOS DA TIA CUNEGUNDES