quinta-feira, 29 de setembro de 2011

OLHEM O TEXTO QUE PROMETI...

                                    A festinha

                O menino era um capetinha. Desbocado, safadinho, aquela carinha típica de menino matreiro. Vivia sendo expulso das festinhas de aniversário em que comparecia, matando a mãe de desgosto.
                Na última em que comparecera, tinha armado uma brincadeira tão safada no banheiro, que em meia hora a mãe do aniversariante teve de devolvê-lo para casa. E o que falava de palavrão não era brincadeira.
               Passaram meses sem que fosse convidado para festa  alguma no bairro.
              Um dia a mãe dele recebe um telefonema de uma vizinha convidando o garotinho pro aniversário da filha. No fundo, a mãezinha ficou muito feliz, afinal, o menininho dela seria de novo aceito no seu círculo.
              Na hora da festa, arrumou o filho todo bonitinho, penteou o cabelinho do menino e deu muitos conselhos pra ele, “meu filhinho, comporte-se direitinho, não faça a mamãe passar vergonha, não fale palavra feia, não agarre as menininhas, respeite os mais velhos,” essas coisas. Fez o embrulho do presentinho, deu um beijo na testa do menino e disse:
             _ Vai com Deus, meu anjo. Faz tudo direitinho como mamãe falou, viu?
            E o menino foi.
           Dez minutos depois, olha o menino de volta, todo sem graça. A mãe abriu a porta e deu de cara com o menininho ali, com aquele sorrisinho todo amarelinho nos lábios, ah, ela nem conversou:
          _ Capetinha! A gente não pode confiar em você, não é? Foi agarrando o menino pela orelha e falando todas as coisas que mãe fala nestas horas e jogou o menino no banheiro.
         _ Vai ficar preso aí até seu pai chegar pra conversar com você. Eu já não tenho mais paciência. E fechou a porta do banheiro.
         O menino chorou, berrou, soluçou, mas ela o deixou lá.
         Naquele dia, o pai chegou tardíssimo. Já encontrou a mulher resmungando:
         _ O capeta do seu filho só me dá desgosto. Tá preso lá no banheiro esperando você chegar para conversar com ele. E contou tudo o que tinha acontecido. O pai foi lá, abriu a porta, o menino estava deitadinho no chão do banheiro, dormindo, dando aqueles soluços profundos que menino dá quando  adormece depois de um choro muito longo. O pai acordou o filho, sentou-o no colo muito severo e perguntou com voz grave:
       _ Que foi que houve, rapaz?
       E o menino com a vozinha lá no fundo:
       _ A festa foi transferida para amanhã.
PINTO, Ziraldo Alves. In: As anedotas do Pasquim. Rio de Janeiro: Codecri, 1974. p. 10.
 BEIJOS DA TIA CUNEGUNDES

sábado, 26 de março de 2011

NOVO ACORDO: HÍFEN

Não se emprega o hífen:

1. Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo termina em vogal e o segundo termo inicia-se em r ou s. Nesse caso, passa-se a duplicar estas consoantes: antirreligioso, contrarregra, infrassom, microssistema, minissaia, microrradiografia, etc.

2. Nas constituições em que o prefixo ou pseudoprefixo termina em vogal e o segundo termo inicia-se com vogal diferente: antiaéreo, extraescolar, coeducação, autoestrada, autoaprendizagem, hidroelétrico, plurianual, autoescola, infraestrutura, etc.

3. Nas formações, em geral, que contêm os prefixos des- e in- e o segundo elemento perdeu o h inicial: desumano, inábil, desabilitar, etc.

4. Nas formações com o prefixo co-, mesmo quando o segundo elemento começar com o: cooperação, coobrigação, coordenar, coocupante, coautor, coedição, coexistir, etc.

5. Em certas palavras que com o uso adquiriram noção de composição: pontapé, girassol, paraquedas, paraquedista, etc.

6. Em alguns compostos com o advérbio “bem”: benfeito, benquerer, benquerido, etc.

Emprega-se o hífen:
1. Nas formações em que o prefixo tem como segundo termo uma palavra iniciada por h: sub-hepático, eletro-higrómetro, geo-história, neo-helênico, extra-humano, semi-hospitalar, super-homem.

2. Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina na mesma vogal do segundo elemento: micro-ondas, eletro-ótica, semi-interno, auto-observação, etc.
Obs: O hífen é suprimido quando para formar outros termos: reaver, inábil, desumano, lobisomem, reabilitar.
Para não gerar dúvidas, vejamos os casos mais comuns do uso do hífen que continua o mesmo depois do reforma ortográfica:
1. Em palavras compostas por justaposição que formam uma unidade semântica, ou seja, nos termos que se unem para formam um novo significado: tio-avô, porto-alegrense, luso-brasileiro, tenente-coronel, segunda-feira, conta-gotas, guarda-chuva, arco-íris, primeiro-ministro, azul-escuro.

2. Em palavras compostas por espécies botânicas e zoológicas: couve-flor, bem-te-vi, bem-me-quer, eva-do-chá, abóbora-menina, erva-doce, feijão-verde.

3. Nos compostos com elementos além, aquém, recém e sem: além-mar, recém-nascido, sem-número, recém-casado, aquém-fiar, etc.

4. No geral, as locuções não possuem hífen, mas algumas exceções continuam por já estarem consagradas pelo uso: cor-de-rosa, arco-da-velha, mais-que-perfeito, pé-de-meia, água-de-colônia, queima-roupa, deus-dará.

5. Nos encadeamentos de vocábulos, como: ponte Rio-Niterói, percurso Lisboa-Coimbra-Porto e nas combinações históricas ou ocasionais: Áustria-Hungria, Angola-Brasil, Alsácia-Lorena, etc.

6. Nas formações com os prefixos hiper-, inter- e super- quando associados com outro termo que é iniciado por r: hiper-resistente, inter-racial, super-racional, etc.

7. Nas formações com os prefixos ex-, vice-: ex-diretor, ex-presidente, vice-governador, vice-prefeito.

8. Nas formações com os prefixos pós-, pré- e pró-: pré-natal, pré-escolar, pró-europeu, pós-graduação, etc.

9. Na ênclise e tmese: amá-lo, deixá-lo, dá-se, abraça-o, lança-o e amá-lo-ei, falar-lhe-ei, etc.

FONTE: Gramática Brasil Escola

DESFAZENDO AS DÚVIDAS SOBRE O "que" E O "se"

A palavra QUE em português pode ser:

Interjeição: exprime espanto, admiração, surpresa.
Nesse caso, será acentuada e seguida de ponto de exclamação. Usa-se também a variação o quê! A palavra que não exerce função sintática quando funciona como interjeição.

Quê! Você ainda não está pronto?
O quê! Quem sumiu?

Substantivo: equivale a alguma coisa.
Nesse caso, virá sempre antecedida de artigo ou outro determinante, e receberá acento por ser monossílabo tônico terminado em e. Como substantivo, designa também a 16ª letra de nosso alfabeto. Quando a palavra que for substantivo, exercerá as funções sintáticas próprias dessa classe de palavra(sujeito, objeto direto, objeto indireto, predicativo, etc.)

Ele tem certo quê misterioso. (substantivo na função de núcleo do objeto direto)

Preposição: liga dois verbos de uma locução verbal em que o
auxiliar é o verbo ter.
Equivale a de. Quando é preposição, a palavra que não exerce função sintática.

Tenho que sair agora.
Ele tem que dar o
dinheiro hoje.

Partícula expletiva ou de realce: pode ser retirada da frase, sem prejuízo algum para o sentido.
Nesse caso, a palavra que não exerce função sintática; como o próprio nome indica, é usada apenas para dar realce. Como partícula expletiva, aparece também na expressão é que.

Quase que não consigo chegar a tempo.
Elas é que conseguiram chegar.

Advérbio: modifica um adjetivo ou um advérbio. Equivale a quão. Quando funciona como advérbio, a palavra que exerce a função sintática de adjunto adverbial; no caso, de intensidade.

Que 
lindas flores!
Que barato!

Pronome: como pronome, a palavra que pode ser:
• pronome relativo: retoma um termo da oração antecedente, projetando-o na oração conseqüente. Equivale a o qual e flexões.
Não encontramos as pessoas que saíram.
• pronome indefinido: nesse caso, pode funcionar como pronome substantivo ou pronome adjetivo.
• pronome substantivo: equivale a que coisa. Quando for pronome substantivo, a palavra que exercerá as funções próprias do substantivo (sujeito, objeto direto, objeto indireto, etc.)
Que aconteceu com você?

• pronome adjetivo: determina um substantivo. Nesse caso, exerce a função sintática de adjunto adnominal.

Que vida é essa?

Conjunção: relaciona entre si duas orações. Nesse caso, não exerce função sintática. Como conjunção, a palavra que pode relacionar tanto orações coordenadas quanto subordinadas, daí classificar-se como conjunção coordenativa ou conjunção subordinativa. Quando funciona como conjunção coordenativa ou subordinativa, a palavra que recebe o nome da oração que introduz. Por exemplo:
Venha logo, que é tarde. (conjunção coordenativa explicativa)
Falou tanto que ficou rouco. (conjunção subordinativa consecutiva)

Quando inicia uma oração subordinada substantiva, a palavra que recebe o nome de conjunção subordinativa integrante.

Desejo que você venha logo.


A palavra se

A palavra se, em português, pode ser:

Conjunção: relaciona entre si duas orações. Nesse caso, não exerce função sintática. Como conjunção, a palavra se pode ser:
* conjunção subordinativa integrante: inicia uma oração subordinada substantiva.
Perguntei se ele estava feliz.
* conjunção subordinativa condicional: inicia uma oração adverbial condicional (equivale a caso).
Se todos tivessem estudado, as notas seriam boas.

Partícula expletiva ou de realce: pode ser retirada da frase sem prejuízo algum para o sentido. Nesse caso, a palavra se não exerce função sintática. Como o próprio nome indica, é usada apenas para dar realce.
Passavam-se os dias e nada acontecia.

Parte integrante do verbo: faz parte integrante dos verbos pronominais. Nesse caso, o se não exerce função sintática.
Ele arrependeu-se do que fez.

Partícula apassivadora: ligada a verbo que pede objeto direto, caracteriza as orações que estão na voz passiva sintética. É também chamada de pronome apassivador. Nesse caso, não exerce função sintática, seu papel é apenas apassivar o verbo.

Vendem-se casas.
Aluga-se carro.
Compram-se jóias.
Índice de indeterminação do sujeito: vem ligando a um verbo que não é transitivo direto, tornando o sujeito indeterminado. Não exerce propriamente uma função sintática, seu papel é o de indeterminar o sujeito. Lembre-se de que, nesse caso, o verbo deverá estar na terceira pessoa do singular.

Trabalha-se de dia.
Precisa-se de vendedores.

Pronome reflexivo: quando a palavra se é pronome pessoal, ela deverá estar sempre na mesma pessoa do sujeito da oração de que faz parte. Por isso o pronome oblíquo se sempre será reflexivo (equivalendo a  a si mesmo), podendo assumir as seguintes funções sintáticas:

* objeto direto
Ele cortou-se com o facão.
* objeto indireto
Ele arroga-se direitos que não possui.
* sujeito de um infinitivo
“Sofia deixou-se estar à janela.”

FONTE:

FIQUE POR DENTRO!!!

COLOCAÇÃO PRONOMINAL

Próclise ou ênclise - O pronome pode ficar antes ou depois do verbo quando houver:

1) sujeito explícito antes do verbo:
  • Ele se manteve / manteve-se irredutível em relação ao divórcio.
  • William Golding se consagrou/consagrou-se como um mestre em esmiuçar questões complexas da natureza humana.
  • Desde os dois anos de idade Laís se veste /veste-se sozinha.
  • Humilhar  o vizinho se tornou/tornou-se uma obsessão para Joel.
  • Por muito tempo aquelas pessoas se debateram/debateram-se com o alcoolismo.
2) conjunção coordenativa:
  • Gostei da festa, porém me despedi/despedi-me cedo.
  • Tem rompantes, mas se arrepende/arrepende-se depois.
  • O governador foi taxativo e se estendeu/estendeu-se longamente sobre o assunto.

3) preposição antes de verbo no infinitivo:
  • Nas lojas esportivas encontramos o equipamento ideal para proporcionar-nos/para nos proporcionar uma vida sadia.
  • Temos satisfação em lhe participar / em participar-lhe a inauguração da fábrica.
  • Tenho o prazer de lhes falar/falar-lhes sobre a filosofia que norteia nossa instituição.

Obs. Quando o pronome é a/as, o/os, torna-se preferível a ênclise: Conseguido o divórcio, sentiu-se tentada a enganá-lo (em vez de a o enganar) na divisão dos bens. / Tenho o prazer de convidá-los a comparecer ao batismo. / Folgo por sabê-los bem.

Recomendações

Para muitos, trata-se de regras rígidas, mais do que recomendações. Digamos que quem quer redigir com correção e estilo deve cuidar para adotar a próclise nas seguintes situações:

1) Os pronomes indefinidos e relativos e as conjunções subordinativas atraem o pronome átono; para facilitar seu reconhecimento, convém notar que grande parte começa com qu:
Eis o livro do qual se falou a noite inteira.
Procuramos quem se interesse por criação de bicho-da-seda.
Quer me arrependa, quer não, irei lá.
O resultado das urnas serviu para mostrar a falácia daqueles que se jactavam de uma força política que lhes permitia tudo.
Sua carreira política começou em 1955, quando se elegeu vereador pelo antigo PTB.
Em sociedade tudo se sabe. / Onde se meteram eles?
2) Também as palavras de valor negativo atraem o pronome átono:
Nada nos afeta tanto quanto o aumento do leite. / Nunca se viu coisa igual.
Não me diga isso para não me aborrecer. / Ninguém os tolera.
Jamais se soube a verdadeira versão dos fatos.
É interessante observar que se a palavra negativa precede um infinitivo não flexionado, o pronome pode vir depois do verbo: Calei para não a magoar.  Calei para não magoá-la. / Saí para não os incomodar/para não incomodá-los.

3) Advérbios de um modo geral atraem o pronome átono:
Aqui se faz, aqui se paga. / Agora te reconheço. / Sempre se disse isso.
se foi nosso dinheiro... / Talvez nos encontremos. / Devagar se vai ao longe.
Ele certamente a viu. / Muito nos contaram sobre isso. / Logo se saberá o resultado.
Dissemos, na semana passada, que a língua portuguesa no Brasil é proclítica. Tanto é assim que o Manual Geral de Redação da Folha de S. Paulo resume sua orientação alertando para esse ponto: “Atualmente o pronome é colocado antes do verbo haja ou não uma palavra que o atraia (pronome relativo, negações etc.). Mas em pelo menos um caso usa-se o pronome depois do verbo: início de oração”.
proibições - Há apenas duas situações inviáveis:
1) a ênclise com os tempos futuros; em outros termos: colocar o pronome átono depois dos verbos no futuro do presente e do pretérito do indicativo e no futuro do subjuntivo:
fazerei-me / faria-nos / diriam-se / se disser-te / quando puse-las / se trouxe-las etc.

2) o pronome átono depois do particípio: Eu já teria aposentado-me se ganhasse bem.

Se aplicar a orientação de sempre usar o pronome na frente do verbo, você já não corre o risco de cometer esse erro de ênclise. Como corrigir essas situações, então? Usar a próclise colocando um sujeito explícito antes do verbo, para não deixar o pronome no início da frase:
  • Eu me benzerei; ele nos faria um favor; se te disser; quando (eu) as puser no lugar; eles se diriam magoados. Ficarei feliz se (você) as trouxer junto.
  • Eu já teria me aposentado se ganhasse bem.
Começo de frase

Ainda não aceita na linguagem culta formal, a colocação do pronome átono em início de frase é permitida na linguagem informal e nos diálogos - pode ser “proibida”, mas não é inviável, portanto. Celso Cunha e Lindley Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo (1985: 307), observam que essa possibilidade – especialmente com a forma me – é característica do português do Brasil e também do português falado nas repúblicas africanas. E citam exemplos de Erico Veríssimo e Luandino Vieira, respectivamente: Me desculpe se falei demais. / Me arrepio todo...
E já escrevia Mário de Andrade, em “Turista Aprendiz”: Se sente que o dia vai sair por detrás do mato. Em todo caso, deve-se evitar o uso do pronome “se” no começo da frase porque ele pode induzir o leitor a pensar que se trata da conjunção condicional se.

Locução verbal

Relembrando: locução verbal é a reunião de dois ou mais verbos para exprimir uma só ação. O primeiro verbo é chamado auxiliar; o último é o principal e está sempre no infinitivo, no gerúndio ou no particípio. Para melhor visualização e fixação, vejamos as possibilidades de colocação dos pronomes átonos por meio de exemplos apenas.

1) Auxiliar + Infinitivo
Quero fazer-lhe uma surpresa.
Quero-lhe fazer uma surpresa.
Quero lhe fazer uma surpresa. [sem hífen é mais brasileiro]
Eu lhe quero fazer uma surpresa.

2) Auxiliar + Infinitivo com preposição
Começamos a nos preparar para o vestibular.
Começamos a preparar-nos para o vestibular.
3) Auxiliar + Gerúndio
Eles foram afastando-se.
Eles foram-se afastando.
Eles foram se afastando. [colocação brasileira]
Eles se foram afastando.
4) Auxiliar + Particípio
O povo havia-se retirado quando chegamos.
O povo havia se retirado quando chegamos.
O povo se havia retirado quando chegamos.
Veja que aqui só há três opções, porque não se permite a ênclise com o particípio.


Fonte:


terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

ALGUNS DOS MEUS ALUNOS APROVADOS NOS VESTIBULARES: PARABÉNS!!!



DICAS SOBRE COESÃO TEXTUAL

Ainda dentro da coesão interfrásica, existe o processo de justaposição, em que a coesão se dá em função da seqüência do texto, da ordem em que as informações, as proposições, os argumentos vão sendo apresentados. Quando isto acontece, ainda que os operadores não tenham sido explicitados, eles são depreendidos da relação que está implícita entre as partes da frase. O trecho abaixo é um exemplo de justaposição.
Foi em cabarés e mesas de bar que Di Cavalcanti fez amigos, conquistou mulheres, foi apresentado a medalhões das artes e da política. Nos anos 20, trocou o Rio por longas temporadas em São Paulo; em seguida foi para Paris. Acabou conhecendo Picasso, Matisse e Braque nos cafés de Montparnasse. Di Cavalcanti era irreverente demais e calculista de menos em relação aos famosos e poderosos. Quando se irritava com alguém, não media palavras. Teve um inimigo na vida. O também pintor Cândido Portinari. A briga entre ambos começou nos anos 40. Jamais se reconciliaram. Portinari não tocava publicamente no nome de Di.
(Revista VEJA, nº 37,setembro/97)
Há, neste trecho, apenas uma coesão interfrásica explicitada: trata-se da oração "Quando se irritava com alguém, não media palavras". Os demais possíveis conectores são indicados por ponto e ponto-e-vírgula.
Coesão Temporal - uma sequência só se apresenta coesa e coerente quando a ordem dos enunciados estiver de acordo com aquilo que sabemos ser possível de ocorrer no universo a que o texto se refere, ou no qual o texto se insere. Se essa ordenação temporal não satisfizer essas condições, o texto apresentará problemas no seu sentido. A coesão temporal é assegurada pelo emprego adequado dos tempos verbais, obedecendo a uma sequência plausível, ao uso de advérbios que ajudam a situar o leitor no tempo (são, de certa forma, os conectores temporais). Exemplos:
A dita Era da Televisão é, relativamente, nova. Embora os princípios técnicos de base sobre os quais repousa a transmissão televisual já estivessem em experimentação entre 1908 e 1914, nos Estados Unidos, no decorrer de pesquisas sobre a amplificação eletrônica, somente na década de vinte chegou-se ao tubo catódico, principal peça do aparelho de tevê. Após várias experiências por sociedades eletrônicas, tiveram início, em 1939, as transmissões regulares entre Nova Iorque e Chicago - mas quase não havia aparelhos particulares. A guerra impôs um hiato às experiências. A ascensão vertiginosa do novo veículo deu-se após 1945. No Brasil, a despeito de algumas experiências pioneiras de laboratório (Roquete Pinto chegou a interessar-se pela transmissão da imagem), a tevê só foi mesmo implantada em setembro de 1950, com a inauguração do Canal 3 (TV Tupi), por Assis Chateaubriand. Nesse mesmo ano, nos Estados Unidos, já havia cerca de cem estações, servindo a doze milhões de aparelhos. Existem hoje mais de 50 canais em funcionamento, em todo o território brasileiro, e perto de 4 milhões de aparelhos receptores. [dados de 1971]
(Muniz Sodré, A comunicação do grotesco)
Temos, neste parágrafo, a presentação da trajetória da televisão no Brasil, e o que contribui para a clareza desta trajetória é a seqüência coerente das datas: entre 1908 e 1914, na década de vinte, em 1939, Após várias experiências por sociedades eletrônicas, (época da) guerra, após 1945, em setembro de 1950, nesse mesmo ano, hoje.
Embora o assunto neste tópico seja a coesão temporal, vale a pena mostrar também a ordenação espacial que acompanha as diversas épocas apontadas no parágrafo: nos Estados Unidos, entre Nova Iorque e Chicago, no Brasil, em todo o território brasileiro.
Coesão Referencial - neste tipo de coesão, um componente da superfície textual faz referência a outro componente, que, é claro, já ocorreu antes. Para esta referência são largamente empregados os pronomes pessoais de terceira pessoa (retos e oblíquos), pronomes possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos, relativos, diversos tipos de numerais, advérbios (aqui, ali, lá, aí), artigos. Exemplos:
a) Durante o período da amamentação, a mãe ensina os segredos da sobrevivência ao filhote e é arremedada por ele. A baleiona salta, o filhote a imita. Ela bate a cauda, ele também o faz. (Revista VEJA, nº 30,julho/97)
ela, a - retomam o termo baleiona, que, por sua vez, substitui o vocábulo mãe/ ele - retoma o termo filhote ele também o faz - o retoma as ações de saltar, bater, que a mãe pratica.
b) Madre Teresa de Calcutá, que em 1979 ganhou o Prêmio Nobel da Paz por seu trabalho com os destituídos do mundo, estava triste na semana passada. Perdera uma amiga, a princesa Diana. Além disso, seus problemas de saúde agravaram-se. Instalada em uma cadeira de rodas, ela mantinha-se, como sempre, na ativa. Já que não podia ir a Londres, pretendia participar, no sábado, de um ato em memória da princesa, em Calcutá, onde morava há quase setenta anos. Na noite de sexta-feira, seu médico foi chamado às pressas. Não adiantou. Aos 87 anos, Madre Teresa perdeu a batalha entre seu organismo debilitado e frágil e sua vontade de ferro e morreu vítima de ataque cardíaco. O Papa João Paulo II declarou-se "sentido e entristecido". Madre Teresa e o papa tinham grande afinidade. (Revista VEJA, nº 36, setembro/97)
que, seu, seus, ela, sua referem-se a Madre Teresa. princesa retoma a expressão princesa Diana. papa retoma a expressão Papa João Paulo II. onde se refere à cidade de Calcutá.
Há ainda outros elementos de coesão, como Além disso, já que, que introduzem, respectivamente, um acréscimo ao que já fora dito e uma justificativa.
c) Em Abrolhos, as jubartes fazem a maior esbórnia. Elas se reúnem em grupos de três a oito animais, sempre com uma única fêmea no comando. É ela, por exemplo, que determina a velocidade e a direção a seguir. Os machos vão atrás, na expectativa de ver se a fêmea cai na rede, com o perdão do trocadilho, e aceita copular. Como há mais machos que fêmeas, elas copulam com vários deles para ter certeza de que engravidarão. (Revista VEJA, nº 30, julho/97)
Neste exemplo, ocorre um tipo bastante comum de referência - a anafórica. Os pronomes elas (que retoma jubartes ), ela (que retoma fêmea ), elas (que se refere a fêmeas ) e deles (que se refere a machos ) ocorrem depois dos nomes que representam.
d) Ele foi o único sobrevivente do acidente que matou a princesa, mas o guarda-costas não se lembra de nada. (Revista VEJA, nº 37, setembro/97)
e) Elas estão divididas entre a criação dos filhos e o desenvolvimento profissional, por isso, muitas vezes, as mulheres precisam fazer escolhas difíceis. (Revista VEJA, no 30, julho/97)
Nas letras d, e temos o que se chama uma referência catafórica. Isto acontece porque os pronomes Ele e Elas, que se referem, respectivamente a guarda-costas e mulheres aparecem antes do nome que retomam.
f) A expedição de Vasco da Gama reunia o melhor que Portugal podia oferecer em tecnologia náutica. Dispunha das mais avançadas cartas de navegação e levava pilotos experientes. (Revista VEJA, nº 27, julho/97)
Temos neste período uma referência por elipse. O sujeito dos verbos dispunha e levava é A expedição de Vasco da Gama, que não é retomada pelo pronome correspondente ela, mas por elipse, isto é, a concordância do verbo - 3ª pessoa do singular do pretérito imperfeito do indicativo - é que indica a referência.
Existe ainda a possibilidade de uma idéia inteira ser retomada por um pronome, como acontece nas frases a seguir:
a) Todos os detalhes sobre a vida das jubartes são resultado de anos de observação de pesquisadores apaixonados pelo objeto de estudo. Trabalhos como esse vêm alcançando bons resultados. (Revista VEJA, no 30, julho/97)
O pronome esse retoma toda a seqüência anterior.
b) Se ninguém tomar uma providência, haverá um desastre sem precedentes na Amazônia brasileira. Ainda há tempo de evitá-lo. (Revista VEJA, junho/97)
O pronome lo se refere ao desastre sem precedentes citado antes.
c) A lei é um absurdo do começo ao fim. Primeiro, porque permite aos moradores da superquadra isolar uma área pública, não permitindo que os demais habitantes transitem por ali. Segundo, o projeto não repassa aos moradores o custo disso, ou seja, a responsabilidade pela coleta de lixo, pelos serviços de água e luz e pela instalação de telefones. Pelo contrário, a taxa de limpeza pública seria reduzida para os moradores. Além disso, a aprovação do texto foi obtida mediante emprego de argumentos falsos. (Revista VEJA, julho/97)
Este texto apresenta diferentes tipos de elementos de coesão. ali - faz referência a área pública , anteriormente citada. disso - retoma o que é considerado um absurdo dentro da nova lei. Ao mesmo tempo, disso é explicado a partir do operador ou seja, pelo contrário - conectores que introduzem uma retificação, uma correção. Além disso - conector que tem por função acrescentar mais um argumento ao que está sendo discutido. Primeiro e Segundo - estes conectores indicam a ordem dos argumentos, dos assuntos.
Coesão lexical
Neste tipo de coesão, usamos termos que retomam vocábulos ou expressões que já ocorreram, porque existem entre eles traços semânticos semelhantes, até mesmo opostos. Dentro da coesão lexical, podemos distinguir a reiteração e a substituição.
Por reiteração entendemos a repetição de expressões lingüísticas; neste caso, existe identidade de traços semânticos. Este recurso é, em geral, bastante usado nas propagandas, com o objetivo de fazer o ouvinte/leitor reter o nome e as qualidades do que é anunciado. Observe, nesta propaganda da Ipiranga, quantas vezes é repetido o nome da refinaria.
Em 1937, quando a Ipiranga foi fundada, muitos afirmavam que seria difícil uma refinaria brasileira dar certo.
Quando a Ipiranga começou a produzir querosene de padrão internacional, muitos afirmavam, também, que dificilmente isso seria possível.
Quando a Ipiranga comprou as multinacionais Gulf Oil e Atlantic, muitos disseram que isso era incomum.
E, a cada passo que a Ipiranga deu nesses anos todos, nunca faltaram previsões que indicavam outra direção.
Quem poderia imaginar que a partir de uma refinaria como aquela a Ipiranga se transformaria numa das principais empresas do país, com 5600 postos de abastecimento anual de 5,4 bilhões de dólares?
E, que além de tudo, está preparada para o futuro?
É que, além de ousadia, a Ipiranga teve sorte: a gente estava tão ocupado trabalhando que nunca sobrou muito tempo para prestar atenção em profecias.
(Revista VEJA, nº 37, setembro/97)
Fonte: www.jurisway.org.br

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Diferença entre Adjunto Adnominal, Aposto e Complemento Nominal




1) Se o termo introduzido por preposição estiver ligado a adjetivo ou advérbio, será complemento nominal. Ex.: Ele era favorável ao divórcio. (favorável = adjetivo; ao divórcio = CN)
2) Se o termo introduzido por preposição estiver ligado a substantivo, poderá ser adjunto adnominal, complemento nominal ou aposto especificador.
DICAS PARA IDENTIFICAÇÃO
1. Veja se o substantivo (núcleo) é concreto ou abstrato.
Se concreto, APOSTO ou ADJUNTO ADNOMINAL.     
a) A voz de Sílvio Santos é bonita.
Quem é bonita? A voz de Sílvio Santos. Núcleo = voz= concreto.
Sílvio Santos é o nome da voz? Não. Então DE SÍLVIO SANTOS é um ADJUNTO ADNOMINAL.
b) A cidade de Patos é quente. Quem é quente? A cidade de Patos.
Núcleo = cidade = concreto.
Patos é o nome da cidade? Sim. Então, DE PATOS é um APOSTO ESPECIFICADOR.
c) A rua de terra será asfaltada pelo prefeito Ary Jumento.
Quem será asfaltada? A rua de terra. Núcleo = rua = concreto.
Terra é o nome da rua? Não. Então, DE TERRA é um ADJUNTO ADNOMINAL.
d) A professora Rejane Cunegundes redigiu.
Quem redigiu? A professora Rejane Cunegundes. Núcleo = professora = concreto.
Rejane Cunegundes é o nome da professora? Sim. Então, Rejane Cunegundes é um APOSTO ESPECIFICADOR.
Se o substantivo núcleo for abstrato, teremos: adjunto adnominal ou complemento nominal.
a)  adjunto adnominal: quando tiver sentido ativo.
Ex.: A resposta do aluno foi satisfatória. (o aluno deu a resposta: sentido ativo)
b)  Complemento nominal: quando tiver sentido passivo.
Ex.: A resposta ao aluno foi satisfatória. (o aluno recebeu a resposta: sentido passivo)
Classifique sintaticamente os termos destacados em complemento nominal, aposto especificador ou adjunto adnominal.
Não se esqueça de que os substantivos derivados de verbos são abstratos.
A venda = vender
A construção = construir
A torcida = torcer
O estudo = estudar
a) A crítica da torcida foi importante para os jogadores.
b) A crítica à torcida foi ferina.
c) O discurso do orador foi longo.
d) Gosto de doce de abacaxi.
e) Impediram a derrubada da mata.
f) A professora Helena tem paixão por carros antigos.g) O café é benéfico à saúde.
Respostas comentadas
a) Passo 1: da torcida está depois do substantivo crítica (abstrato)
Passo 2: a torcida faz a crítica: sentido ativo= adjunto adnominal.
b) Passo 1: da torcida está depois do substantivo crítica (abstrato)
Passo 2: a torcida recebe a crítica: sentido passivo= complemento nominal.
c) Passo 1: do orador está depois do substantivo discurso (abstrato).
Passo 2: o orador faz o discurso: sentido ativo= adjunto adnominal.
d) Passo 1: de abacaxi está depois do substantivo doce(concreto)
Passo 2: como abacaxi não é o nome do doce e sim do que foi feito, então de abacaxi é adjunto adnominal.
e) Passo 1: da mata está depois do substantivo derrubada (abstrato)
Passo 2: a mata foi derrubada = sentido passivo= complemento nominal .
f) Passo 1: Helena está depois do substantivo professora (concreto)
Passo 2: Helena é o nome da professora. Então, Helena é um aposto especificador.
Passo 1: por carros antigos está depois do substantivo paixão(abstrato). Se o substantivo for abstrato, há duas opções: adjunto adnominal ou complemento nominal. E agora? Agora é simples. O adjunto adnominal só poderá ser introduzido pela preposição DE. Moleza, não? A preposição é POR ( por carros antigos), então, complemento nominal.
g) Passo 1: à saúde está depois do adjetivo benéfico. Já dá para matar que é complemento nominal. Se você deixou passar essa informação, observe que a preposição é o (A), então só pode ser complemento.